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Liberdade criativa

Zanini de Zanine gosta de se autoproclamar um pesquisador e conta que investiga sem preconceitos diversas matérias-primas para criar em parcerias com artistas e fazer móveis de larga escala para marcas nacionais e internacionais. Atualmente, ele está envolvido na reedição de peças assinadas por grandes nomes do design, incluindo seu pai, José Zanine Caldas

POR SIMONE RAITZIK

Ele é filho do arquiteto – e “mestre em constru- ção da madeira maciça” – José Zanine Caldas, estagiou com Sérgio Rodrigues (com quem de- senhou o primeiro móvel) e desde cedo frequen- tou o ateliê de artistas como Sérgio Camargo e Amílcar de Castro, amigos da família. Tantas referências fizeram com que Zanini de Zanine afirme, com convicção, que apesar do diploma em Design de Produto pela PUC-Rio, a sua ver- dadeira faculdade foi a “da vida”, acompanhando as obras do pai Brasil afora.

Hoje, aos 45 anos, se diz um profissional mul- tidisciplinar, que vive entre Belo Horizonte e Rio de Janeiro, e investiga, em seu trabalho, diversas matérias-primas – da madeira ao aço inox – sem preconceitos. “Meu estúdio, o 031, exporta móveis para diversos países, dos Estados Unidos a Dubai”, comemora, acrescentando que vem atuando também no universo das artes plásticas, criando esculturas que já integram importantes coleções. “Eu me vejo como um pesquisador que se permite total liberdade no processo de criação”, reflete.

Instalação Natureza Inventada, no MAM RJ, com cadeira de Zanine
e mesa de Carlos Vergara

&DESIGN :: Como você define seu trabalho?
Zanini de Zanine :: Cada vez mais chego à conclusão que o termo pesquisador seja mais adequado que o de designer. A profunda ne- cessidade de conhecer, de experimentar, dita a minha rotina. Somos muito abençoados, aqui no Brasil, pela riqueza de estímulos oriundos da miscigenação, e gosto de estudá-los de forma profunda. Tenho forte interesse antropológico e isso permite maior liberdade nos projetos. Tudo que me cerca vira inspiração e referência.

&D :: Você trabalha para vários fornecedores, não? Quais são os parceiros no momento?
ZZ :: Sim, temos o Atelier Zanini de Zanine, que produz peças únicas, limitadas e artesanais, por meio do processo de carpinta- ria. Além disso, contamos com fornecedores mais industriais em diversas regiões do País e com mão de obra variada com serralhe- ria, estofado, marcenaria, entre outros…

&D :: Qual é a matéria-prima que você tem pesquisado?
ZZ :: Tenho me permitido desbravar mais o aço inox, porque sua durabilidade e resistência são fascinantes. Desenvolvemos, há pouco, peças como mesa de centro e mesas laterais. Em breve, lançaremos uma série limitada mesclando madeira e aço inox. Aguardem, porque vai ficar interessante e diferente.

&D :: Qual a influência do seu pai no seu trabalho?
ZZ :: Desde bem cedo fui instigado e provocado, por meu pai, a ter um olhar mais sensível aos espaços e às proporções. Nasci em uma casa, no Rio de Janeiro, que era projeto dele. Depois, fomos morar em Brasília, onde ele virou meu “guia turístico” e visitáva- mos diariamente as obras em andamento. Viajávamos para ver arquitetura: a colonial típica, em Ouro Preto; a minimalista do japonês Tadao Ando, na Expo Sevilha; casas populares em Taipa, no Delta do Parnaíba, no Piauí; obras de Le Corbusier em Firminy, na França. Tive uma verdadeira faculdade de arquitetura da vida! E isso marcou o meu DNA. Essa carga de informação surge, agora, nos convites que recebo para direções de arte, em que reunimos uma série de profissio- nais como designers, arquitetos, paisagistas, fotógrafos, entre outros, para uma troca de informações voltada para o desenvolvimento de projetos. Acho que sou um designer multidisci- plinar, que reúne muitos saberes e experiências. E faço um pouco de tudo.

&D :: Hoje você exporta muitas peças de sua autoria?
ZZ :: Sim. Hoje temos grande colaboração com galerias. Entre elas, a R&Company, em Nova York, voltada para peças únicas e limitadas em madeira maciça. Também temos parcerias com as marcas italianas Tacchini, Slamp, Cappellini e outras, que comercializam a poltrona Lagoa, a Linha Flora e a cadeira Trez, produtos de larga escala.

&D :: Como são as parcerias com artistas plás- ticos, como a que fez com Carlos Vergara?
ZZ :: São experiências férteis que exercitam os limites do universo de cada um. Com Carlos Vergara, tenho sempre a grande oportunidade de aprender, já que estamos falando de um dos grandes artistas plásticos brasileiros. Montamos instalações em diferentes oportunidades, em lo- cais como MAM-Rio, Cidade das Artes, ArtRio e outros. Essa simbiose entre arte e design tem nos proporcionado cada vez mais intervenções. Há pouco criei, na Fazenda 3 Saltos, Barra do Piraí, uma instalação de design/arte toda em pedra sabão com três poltronas e dois longos bancos que ficaram junto a uma escultura de Raul Mourão, no alto de uma colina. Há, ali, um interessante diálogo entre a pedra e o metal.

Estante Pássaros com prateleiras reguláveis, de Ipê

&D :: Em que projeto está engajado agora?
ZZ :: Estruturamos o Instituto José Zanine Caldas com o objetivo de zelar pelas reedições, reagrupar materiais para acervo, promover exposições e autenticar peças originais. Estamos fazendo a curadoria da 31 Mobiliário, marca de móvel brasileiro que conta com reedições exclusivas de Ruy Ohtake, José Zanine Caldas e, em breve, de Ricardo Fasanello, Gustavo Bittencourt, Rodrigo Ohtake e Zanini de Zanine. O showroom da marca está em Belo Horizonte, onde moro atualmente – embora passe tempo- radas no Rio – e vende nacional e internacional- mente, por enquanto, para Portugal, França, Estados Unidos e Dubai.

Mesa Baixa na galeria R&Company, NYC

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