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DIVINA ARTE

O artista Gui Calil revela como descobriu seu caminho artístico – Divina Arte

Ele passou a infância e a adolescência mergulhado em resmas de papéis, tintas e caracteres tipográficos, já que os pais tinham uma gráfica, e Gui, na época, costumava cobrir as paredes de seu quarto com imagens e desenhos – particularmente, se recorda do desenho de uma torneira aberta, com uma gota de sangue. Aos 19 anos, sentiu a necessidade de desenvolver sua espiritualidade. Contou com a ajuda de um guru que transmitiu ao jovem agoniado o caminho da meditação e da religião, que deram um norte para sua vida.

Em 1989, Gui (@gui.calil) começou a trabalhar com design e tipologia num computador 286 – um dos primeiros PCs lançados – e com um scanner bem primitivo. Sempre gostou de revistas e, para ele que morava em Ribeirão Preto (SP), era um momento de alegria quando ia à banca e comprava as revistas Vogue, Wallpaper, entre tantas outras publicações que o encantavam pela beleza das imagens e dos conteúdos que o faziam sonhar – não havia museus na sua cidade, e ele não pensava muito no conceito de arte, mas desenhava e diagramava por instinto. O espaço da tela em branco do computador era onde podia manifestar suas inquietações mais profundas e transformá-las em arte.

Também pintava os quadros por necessidade de conectar sua alma com o divino – considerava isso um hobby – e presenteava os amigos com suas criações. Mas o acaso fez com que um amigo o contatasse para uma exposição na capital paulista. Para montar a mostra, Gui pediu emprestado seis obras que havia dado de presente. Mas tudo deu errado! O moço que havia feito o convite para a exposição roubou suas obras e sumiu. Gui conta que apenas lamentou o episódio e tomou isso como um sinal para esquecer o assunto. A arte parecia um capítulo encerrado em sua vida.

Tudo iria mudar com um evento dramático, quando seu segundo filho, António, nasceu. Logo, a alegria de ser pai foi abalada com a notícia de que o menino tinha um problema cardíaco e precisava ser operado com urgência. Foi um golpe duríssimo para Gui que, desconsolado, foi almoçar na casa de um amigo, que propôs um desafio para espantar a dor da espera da cirurgia e do processo de cura do filho: pintar.

Gui topou e mergulhou na pintura, produzindo uma série de 64 obras. Mandou de presente, para Miami, uma pintura a uma amiga que acompanhava seu drama e lhe dava muito apoio. Ela amou o quadro e sugeriu um espaço para Gui expor o seu trabalho. Foi quando ele percebeu que ser artista e designer estava salvando sua vida, e abraçou com muita fé esse caminho.

Em 2015, ele voltou para Miami para expor em uma loja de design. Era um momento em que a cidade passava por uma enorme transformação cultural com a criação da Art Basel Miami.

Hoje, a vida de Gui mudou muito: seu filho é um garoto esportista e leva uma vida normal, e o artista participou da Bienal de Veneza com uma coletiva de sua galeria de Nova York, a Saphira & Ventura, com o tema “Horizonte das virtudes”. Na sequência, seu destino foi Nova York, para acertar a representação com mais uma galeria de arte, a Agora, e também lançou a série “Os sonhos e a aspereza humana”, na SCOPE Art Show Miami Beach, importante feira de arte voltada para novas mídias e jovens talentos, que fica em cartaz até dia 4 de dezembro. Nela, Gui desenvolveu trabalhos em acrílico sobre folhas de lixa, mostrando o contraste entre os sonhos e a aspereza das relações humanas.

Modesto, o artista acredita que “recebe” suas pinturas de um lugar maior. “Sou apenas um veículo e cabe a mim transmitir essa emoção nas minhas telas, espalhar uma onda de amor e harmonia”, diz. Seus quadros são uma explosão de cores e de formas muito particulares, que geram empatia e cumplicidade entre o artista e seu público, gerando um momento de comunhão mágico. Em “Todo tipo de amor “, feito de acrílico sobre papel craft com fibra de algodão, a definição de arte condiz com seu processo de criação. “Imagine um ponto de cor e luz bem no centro de sua vida. Por meio de diferentes formas, nossos corações se elevam em cores, sons e toques”, explica.

As obras de Gui fazem parte de um abstracionismo lúdico. Elas relacionam formas e cores de maneira potente, às vezes pela grande dimensão dos formatos, outras pelo gestual. As camadas de tinta transportam o espectador a um espaço de paz, com uma caligrafia própria e em comunhão com um sentimento maior que se relaciona, talvez, com o clássico sopro das musas.

// Por Bronie Lozneanu

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