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DO ESTILISMO À PESQUISA DE TENDÊNCIAS

Longe das passarelas desde 2012, o estilista Walter Rodrigues se dedica hoje ao que mais gosta de fazer:” compartilhar conhecimento.

POR REGINA GALVÃO

LONGE DAS PASSARELAS DESDE 2012, O ESTILISTA WALTER RODRIGUES SE DEDICA HOJE AO QUE MAIS GOSTA DE FAZER: COMPARTILHAR CONHECIMENTO

São poucos os que no auge do sucesso resolvem se reinventar profissionalmente. Pois determinação não faltou ao estilista Walter Rodrigues ao decidir abandonar o glamour das passarelas, daqui e de Paris, nas quais sempre foi aclamado pela imprensa nacional e estrangeira, para se dedicar à pesquisa de tendências. 

Em 2012, após duas décadas fazendo moda autoral, reconhecida pelo rigor da modelagem e do acabamento, com trajes de festa disputados por atrizes e socialites, o estilista preferiu se dedicar apenas à coordenação do Núcleo de Design e Pesquisa do salão Inspiramais, para o qual começou a contribuir em 2004, com o objetivo de fortalecer o setor calçadista e ajudá-lo a encontrar originalidade em um mercado competitivo e cheio de cópias.

“Sempre fui muito curioso e, naquele momento, optei por me dedicar ao que me deixava mais feliz: compartilhar conhecimento. Eu não queria mais fazer roupas”, diz. Coube à empresária gaúcha Ilse Maria Guimarães, então superintendente da Assintecal (Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos), convidar Walter a assumir a tarefa, percebendo sua personalidade investigativa. “Considero a Ilse meu guru, assim como a Clô Orozco foi minha mentora nos anos 1980, e o estúdio do Miro, fotógrafo com quem trabalhei por vários anos, o responsável por aprimorar meu gosto e meu olhar”, afirma o estilista.

NA MODA, ELE JÁ FEZ DE TUDO

O artesanal esteve presente na trajetória de Walter Rodrigues desde muito cedo. Em Tupã, município do interior paulista nde foi criado pela mãe – o pai morreu quando o filho tinha 11 anos –, ele conviveu com oleiros e costureiras. “O fazer com as mãos sempre me chamou a atenção”, afirma. Na adolescência, virou leitor voraz da revista Vogue e cultivou o hábito de comprar retalhos de tecidos para mandar confeccionar as próprias camisas. Chegou a se matricular em um curso técnico de química, mas largou tudo para ir atrás de seu sonho: trabalhar com moda.

Em São Paulo, Walter foi produtor da revista Manequim e colaborou com as marcas Cori, Huis Clos e Bicho da Seda. Permaneceu por seis anos como diretor de arte do estúdio de Miro e, em 1987, abriu a loja Satori, no Morumbi Shopping, com a injeção financeira de um investidor japonês. “Escolhi o nome pela minha ligação com a cultura japonesa. A região onde me criei tem forte influência de imigrantes que vieram do Japão, e eu costumava frequentar as festas e missas budistas. Satori é um termo relacionado a esses ensinamentos, a forma de atingir o Nirvana”, conta o estilista.

Em 1992, numa época em que costureiros não costumavam dar o próprio nome a suas empresas, ele inaugurou a confecção Walter Rodrigues. Dois anos depois, o amigo Paulo Borges o convidou para abrir os desfiles da primeira edição do Phytoervas Fashion, que teve ainda a participação de Sonia Maalouli e Alexandre Herchcovitch. “Eu construí laços profissionais que me ajudaram a me estabelecer no mercado. Os produtores de moda com quem eu havia trabalhado tinham se tornado editores de revistas e foi muito fácil ter minhas criações nessas publicações”, lembra.

CONHECIMENTO MULTIPLICADO

Carismático, o paulista também conquistou a simpatia e a confiança de rendeiras piauienses. “A Renata Mellão, do Museu A CASA do Objeto Brasileiro, em São Paulo, me chamou para realizar uma oficina com as artesãs do município de Ilha Grande, cuja tradição da renda de bilro vinha desaparecendo. Conseguimos fazer uma revolução no pensar da renda, incluindo cor e novas peças no mostruário, não só para enxoval, mas também para a moda. Com isso, mantivemos a tipologia viva e o local ganhou até museu com esse enfoque”, conta o estilista. “O Walter Rodrigues trouxe a moda para a renda. Ele foi o pioneiro nessa questão das cores. A gente aprende muito com ele, assim como ele aprende com a gente”, afirmou uma das rendeiras de bilro da Associação Casa das Rendeiras, em Morros da Mariana, bairro de Ilha Grande, em depoimento para um vídeo produzido pelo Museu A CASA. “Traduzir o trabalho da renda em blusa e vestido, isso foi maravilhoso para nós.”

Há mais de uma década vivendo em Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, o paulista responde pelo Núcleo de Pesquisa e Design do Inspiramais. Em 2024, esse salão expositivo semestral de criação e desenvolvimento de materiais inovadores e sustentáveis para diversos segmentos – calçadista, confecção, mobiliário, acessórios e automobilístico – foi realizado não somente no Rio Grande do Sul, mas também em São Paulo. “Eu costumo perguntar aos gestores: ‘O que você está fazendo para o futuro do seu neto?’. Nós temos a obrigação de criar padrões e práticas sustentáveis dentro da indústria e temos conseguido, a cada ano, ampliar essa conquista, estabelecendo normas, certificações e selos voltados à sustentabilidade.”

Além de coordenar o Inspiramais, Walter ainda atua no Instituto Focus Têxtil, cuja meta é ampliar a visão da circularidade na moda. Ali ele é mentor de projetos, trabalhando junto a estudantes e pessoas 50+. “Nosso objetivo na moda, hoje, é construir uma vida melhor para todos”, conclui.

“TEMOS A OBRIGAÇÃO DE CRIAR PADRÕES E PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS DENTRO DA INDÚSTRIA”

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