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SIMPLES & NATURAL

Depois de literalmente fazer moda, Antonia Bernardes se torna sócia da Bernardes Arquitetura e pilota com leveza e elegância a área de decoração do escritório carioca. Simples & Natural.

Ela brinca que teve a sorte de nascer em uma família onde criar é quase uma obrigação. Ou mesmo uma vocação. Desde muito cedo, aprendeu que o “simples” não era apenas a melhor escolha, mas também a mais elegante e atemporal – em todos os sentidos. 

Neta, filha e irmã de arquitetos renomados (Sérgio, Claudio e Thiago Bernardes, respectivamente), a vida de Antonia, a caçula, sempre foi cercada por um mix de aconchego, beleza e despojamento. “O código comum, em casa, tinha a ver com a arte de morar e viver bem. Mas sem ostentação. A ideia era valorizar, acima de tudo, o básico e natural”, conta.

Sempre muito apoiada pelos pais – Claudio e Bebel – em suas escolhas, Antonia estudou Comunicação Social, mas de olho no universo da moda. “Comecei a trabalhar cedo, aos 16 anos, como assistente em produção de foto, ao lado das craques Bebel Moraes e Hiluz del Priore. Maior ralação, mas sentia um prazer imenso”, lembra. 

Aos 20 anos, ainda na faculdade, casou-se com o então namorado Rodrigo Noronha e logo engravidou – “do Joaquim e, em seguida, de Nina. Mais tarde um pouco, da Maria, a caçulinha. E descobri com eles a felicidade em ser mãe e quanto esse sentimento me alimentava”. Quando Nina estava com 4 meses, foi convidada para cuidar da mídia da Maria Bonita, badalada grife de moda carioca. “A marca era uma potência. Foi um privilégio conviver ali com Isabela Capeto, Andrea Marques, Gabriela Moraes… Todas passaram por lá, na criação”, lembra. 

A experiência na Maria Bonita se estendeu por quase cinco anos. Quando saiu, um pouco depois da morte repentina do pai – em um acidente de carro a caminho de um projeto em Bonito, MS –, Antonia resolveu arriscar: era hora de ser dona do próprio negócio e assinar uma moda autoral que prezava por conforto, corte confortável e cartela de cores neutras. “Foi um passo largo, mas tive total apoio da família, como sempre. Meu escritório era nos fundos da casa onde até hoje funciona o escritório do Thiago (sócio criador da Bernardes Arquitetura), no Rio”. 

A primeira coleção foi minimalista: branco e preto, em algodão, linho e couro. “Como na lição que aprendi em casa, a sofisticação estava na escolha de matérias-primas atemporais, fibras naturais e na simplicidade do corte”, define. 

Essa filosofia de vida – e formação estética – remete diretamente à figura de Claudio, “caiçara de alma japonesa”, como ela gosta de defini-lo. Foi ele quem apresentou Angra dos Reis para a família e lá construiu um refúgio, literalmente de madeira, palha e pedra, à beira-mar. “Ele sofisticou materiais que ninguém dava valor. Nossa casa – uma cabana, na verdade – era numa ilha, praticamente aberta para a paisagem e nada convencional. Ter vivido ali foi uma enorme referência de simplicidade. Ficávamos o dia todo descalços, pé na areia, mergulho no mar, peixe fresco. Uma convivência mágica com os locais. Meu pai sabia aproveitar a vida e transmitiu para 

nós a relação fundamental do morar com a natureza. De quebra, era generoso, divertido, recebia de forma espontânea e, cá entre nós, tinha o abraço mais sedutor do mundo”. 

Há 10 anos, Antonia resolveu novamente mudar. Desgastada com as reviravoltas da vida de empresária, fechou sua marca, quitou as pendências e foi convidada por Thiago para para coordenar a decoração da Bernardes Arquitetura. “Nossos momentos coincidiram porque eu estava terminando um ciclo como dona do negócio e ele tinha decidido romper a sociedade com Paulo Jacobsen, ex-sócio do meu pai. Confesso que de cara tive crise de ansiedade: irmã, filha, neta, muita autocobrança e responsabilidade. Mas a equipe foi incrível e tive total apoio. Foi assim que parei de vestir gente para vestir casa”, conta. 

Hoje, com cerca de 40 obras em andamento – incluindo projetos em Nova York –, Antonia se sente estimulada com uma rotina intensa, que inclui viagens frequentes para conhecer artesãos, ateliês e tendências no universo do artesanato, arte e decoração. “Desde a feira de design de Milão à Feneart, de artesanato, em Recife, o negócio é ir em busca de algo que emocione e surpreenda”. 

Seu trabalho, à frente de uma equipe que diz ser das mais afinadas, é conceituar cores, materiais, desenho de marcenaria e objetos para os interiores assinados pelo escritório. “O olhar da criação tem de ser múltiplo e sem vícios”, ensina com a experiência de quem, recentemente, foi convidada a se tornar efetivamente sócia da Bernardes Arquitetura. “É uma responsabilidade e tanto, mas está bom demais”, resume, feliz da vida. 

// Por Simone Raitzik

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