Com dois livros recém-lançados, Pedro Franco acredita que seus produtos oferecem uma estética provocadora aos clientes.
Eliana Castro
Durante as muitas viagens que o designer Pedro Franco fez para conhecer mestres artesãos do país, várias trouxeram aprendizados. Uma das mais simbólicas se passou no sertão do Cariri, no Ceará, quando um artesão local estava fazendo uma peça que Pedro havia encomendado.
“Fiquei observando e comecei a dar palpites. E ele me disse: ’Incomoda. Temos ali couro, tesoura e, dessa forma, pode pegar tudo e fazer você mesmo’”, lembra. “Entendi que não há hierarquia de saber, apenas saberes diferentes. E a riqueza está em encontrar a intersecção em cada um deles”, afirma ele, que está completando 22 anos de carreira.
Para celebrar, o designer lança este ano o livro Pedro Franco, 20 Anos de Experimentalismo + Alotof Brasil, a História Utópica de uma Indústria Brasileira, que será composto de dois volumes. A ideia era que o lançamento ocorresse em 2020, mas, com a pandemia, ele preferiu adiá-lo.
Além do livro, Pedro publicou sua mais nova coleção, Perfeita Imperfeição, que foi exibida recentemente na Feira de Milão e é inspirada na filosofia oriental do wabi-sabi, que realça o desprendimento da perfeição e é a tradução de seu pensamento. O kintsugi (ouro + junção) é outra arte de referência. Nessa técnica, partes quebradas são juntadas uma a uma, em um processo trabalhoso que dura semanas, e fixadas com laca dourada.
Sobre esse recente trabalho, Pedro conta que é a primeira coleção inspirada em reflexões filosóficas – o designer concluiu recentemente a pós-graduação em filosofia, o que impactou sua produção e sua própria vida.
“Digo que passei da fase do ponto final para a das reticências. Porque a filosofia trouxe um realce maior para a ênfase na reflexão às perguntas, sem que elas precisem, necessariamente, ter respostas. Parece um pouco vago, mas é de fundamental importância na concepção de um produto ou de uma coleção.
O fato de trazer uma estética baseada apenas na convicção de um pensamento é restritivo por si só”, afirma. Por isso, Pedro acredita que seus produtos passaram a ser mais uma plataforma estética de um pensamento aberto, provocador, capaz de levar as pessoas a pensar.
“O valor expresso como pensamento é de fundamental importância para o design com um papel mais relevante. Todos os designers devem ser ativistas nos dias de hoje. Cada produto deve ter um porquê de existir, registrar saberes e gerar incomodo e reflexões”, diz.
Por isso, os novos produtos nascem de uma necessária reflexão que a sociedade necessita fazer a partir da pandemia, que deixou cicatrizes. “As coleções passadas tinham inúmeras cores, mas, em tempo de tanta tecnologia, instagrams, instagramáveis, facebooks, barulhos, rumores, excesso da informação desinformada, resolvi usar o branco.
Não aleatoriamente, mas no sentido de reação a tudo que estamos vivendo”, explica. “E também no sentido da paz, da folha em branco sobre a qual a história se reinicia. Claro que a história não se reinicia do zero, mas a partir da oportunidade dos aprendizados históricos que tivemos. E traz um lindo futuro do presente.”
Veja o depoimento de Pedro Franco sobre a sua trajetória :