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Arte com sotaque carioca

Cristo Redentor, Copacabana Palace, Confeitaria Colombo, Parque Lage e Museu do Amanhã mesclam estilos arquitetônicos e momentos do design conectados com a história mundial.

Por Eliana Castro / Fotos: Pixabay, Divulgação, Shutterstock

É certo que uma capital como o Rio de Janeiro, com belezas naturais tão exuberantes, acaba ofuscando a vista para o que não é mar, floresta, morro, cachoeira nem aquele tremendo pôr do sol que merece aplausos não apenas nas areias do Arpoador.

Como se não bastasse, a beleza do Rio vai muito além de sua natureza de cartão-postal: prova de que a cidade deve mesmo ser abençoada pelo Cristo Redentor, seu garoto-propaganda, que acolhe de braços abertos no Corcovado cariocas e turistas. A estátua, em estilo art déco e uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, foi idealizada em meados do século 19 pelo padre francês Pierre Marie Boss.

Somente em 1921, a ideia de um monumento religioso no Corcovado foi retomada. O projeto do Cristo foi feito pelo arquiteto brasileiro Heitor da Silva Costa, com base na pintura de outro brasileiro, Carlos Oswald. Mas a estátua foi construída na França. Para isso, contratou-se o escultor Maximilian Paul Landowski, na época o maior especialista em art déco.

No ano passado, ficou pronta a reforma emergencial do Cristo, que completou 90 anos, para mitigar os desgastes provocados pelas intempéries, especialmente no manto, no dedo direito e na parte frontal da cabeça, além de ganhar para-raios reforçado e equipamento para medir os ventos.

Além do próprio Cristo, considerada a maior escultura art déco do mundo, com a altura equivalente a um prédio de 13 andares, o Rio se destaca como capital desse estilo na América Latina, com cerca de 400 imóveis dessa escola.

Um deles é o célebre Copacabana Palace, de 1923, projeto do arquiteto francês Joseph Gire, que também criou outros prédios art déco, como o Palácio das Laranjeiras, o Hotel Glória e a antiga sede do jornal A Noite.

Outro ótimo exemplo da arquitetura desse estilo, e que tem resistido bem ao tempo, é o Edifício Biarritz, de 1940, assinado pelo francês Henri Paul Pierre Sajous. Localizado na Praia do Flamengo, é o queridinho de muitos cariocas que curtem arquitetura. Sua fachada principal, formada por uma malha regular de sacadas curvas, intercaladas por pilares contínuos, e sua porta de entrada monumental dão o ar elegante à construção.

Art noveau

A Confeitaria Colombo, eleita um dos dez cafés mais bonitos do mundo, tem como marca registrada o estilo art noveau, que faz com que seus clientes se deliciem com cada detalhe do espaço, enquanto saboreiam os quitutes da loja com um cafezinho.

Fundada em 1894 por imigrantes portugueses, os salões da Colombo possuem enormes espelhos com molduras de jacarandá, estilo Luís XV, fabricados em Antuérpia, Bélgica, bem como paredes e tetos adornados com delicados frisos.

Uma claraboia, com lindos vitrais no teto superior da grande abertura, que conecta o café do térreo com o restaurante, no segundo pavimento, traz o luxo da época. Cada detalhe, como os ladrilhos portugueses, as cristaleiras e as mesas de pé de ferro fundido, com tampos de mármore, remonta aos tempos da Belle Époque, quando ali circulavam nomes como Olavo Bilac, Villa-Lobos, Chiquinha Gonzaga e um sem-número de políticos e artistas.

Ecletismo

O Parque Lage, nos pés do Corcovado, bairro do Jardim Botânico, é um dos lugares do Rio em que o ecletismo estético está presente, apesar da forte influência da arquitetura italiana.

Inaugurado em 1957, sua história começa muito antes de se tornar um parque. No século 16, era um engenho de açúcar, o Del Rey. Em 1660, a área passou para a família Rodrigo de Freitas Mello. No século 19, parte da propriedade foi comprada por um nobre inglês, que contratou o paisagista John Tyndale para criar um jardim romântico.

Depois, um pedaço da fazenda se tornou propriedade de Antonio Martins Lage, até que, em 1920, foi comprada por seu neto, o empresário Henrique Neto. Para agradar sua esposa, a cantora lírica Gabriela Besanzoni, ele encomendou sua remodelação.

O casarão, projetado em 1927 pelo arquiteto italiano Mario Vodret – há pesquisadores que atribuem a autoria a seu compatriota Riccardo Buff –, foi construído em torno da piscina, com inspiração em um pallazo romano, uma reformulação de parte do projeto paisagístico.

No casarão, ainda podem ser vistos os ornamentos de mármore, os azulejos e ladrilhos italianos e as pinturas decorativas do artista paulista Salvador Paylos Sabaté.

Emoldurando a área externa, além do Corcovado e dos jardins de estilo romântico, com uma ala de palmeiras-imperiais, há um aquário, pequenos lagos, grutas e um castelinho, que transporta os visitantes a um mundo mágico.

Modernismo

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939- 1945), os arquitetos modernistas encontraram na capital fluminense um lugar para exercer sua profissão, já que os países estavam devastados. O Palácio Capanema (atual Edifício Capanema), no centro da cidade, foi construído por um grupo de arquitetos formado por Lúcio Costa, Carlos Leão, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcellos e Jorge Machado Moreira, com a consultoria de ninguém menos que o franco-suíço Le Corbusier – um dos maiores arquitetos do século 20. A obra começou em 1936 e foi entregue em 1947.

O edifício é um marco da arquitetura moderna no Brasil. Os 16 andares são sustentados por pilotis, que ajudam a criar um vão livre, valorizando a amplitude. Sua fachada é revestida de azulejos de Cândido Portinari.

A edificação abriga esculturas de Bruno Giorgi, Celso Antônio e Alfredo Ceschiatti. Já as telas são de Alberto Guignard e José Pancetti. Os jardins do térreo, do mezanino e do 16o pavimento foram projetados por Roberto Burle Marx. Não por acaso, em 1948, ele foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Design brasileiro

Para quem se interessa por design, uma boa opção é visitar o Fairmont Rio de Janeiro Copacabana, que reúne uma série de móveis e obras do design brasileiro. Entre as peças, estão o cobogó Mãos, dos irmãos Campana, e as poltronas Diz e Stella, de Sergio Rodrigues.

Há ainda obras de Hugo França e outros artistas brasileiros na decoração do hotel, recentemente retrofitado pela arquiteta Patricia Anastassiadis, preservando aspectos arquitetônicos de época e a atmosfera da construção carioca.

O Museu do Amanhã, inaugurado em 2015 no Píer Mauá, também tem inspiração carioca, embora seu projeto seja assinado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava. A ideia era fazer com que o edifício parecesse flutuar sobre sobre o mar. E conseguiu. A estrutura em balanço dá a ideia de asas, que se expandem por quase todo o cais da Baía da Guanabara. E o espelho d’água, no entorno da edificação, ajuda a criar o efeito de flutuação.

Já que esse é um museu voltado para o amanhã, obviamente, sua construção traz um DNA sustentável. Por isso, o espelho d’água é usado para filtrar a água bombeada da baía, que retorna ao mar. A água da Guanabara também é utilizada para regular a temperatura no interior do edifício.

Há também painéis fotovoltaicos, que podem ser ajustados para aproveitar melhor os ângulos dos raios solares durante todo o dia e gerar energia. Seja pelas exposições, seja pela arquitetura, é impossível sair do Museu do Amanhã sem a sensação de esperança em relação ao futuro.

Confira o vídeo:

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