Ronald Sasson começou nas artes plásticas, viveu na França e em Israel, desenvolveu sua intuição artística até se apaixonar pelos processos. Virou um especialista no chão de fábrica e segue ganhando prêmios por aí.
POR LARISSA JEDYN
Agrônomo de formação, artista plástico por intuição, Ronald Sasson, que cedo ganhou o mundo, se descobriu e foi descoberto quando colocou os pés no chão de fábrica. É lá que a magia acontece. “Gosto do começo, do meio e do fim do processo”, comenta o designer curitibano, que, como artista abstrato, aprendeu a fundamentar a pesquisa na busca por equilíbrio, na proporção de volumes e cores e, quem diria, na possibilidade de materialização. “O trabalho na indústria me fez estar mais atento às normas e regras da física, da química e do mercado.”
Às vezes, quer algo que é impossível de fazer, em outras, a execução é inviável por causa do custo. E, mesmo assim, Sasson segue, intercalando pés e cabeça, no chão e no além. Afinal, o papel aceita tudo, a prática não. E tudo bem. Para mudar de planos ou insistir neles, é preciso conhecer a natureza dos materiais, o maquinário e as técnicas, ter bom relacionamento com o pessoal da Engenharia e não ter vergonha de perguntar. “Os prototipistas sabem de tudo. Tenho um há 20 anos. Mando o desenho, ele faz e volta para raras correções. Essa é a vantagem de trabalhar para poucas empresas e ter boas relações. O designer precisa observar o processo e incorporá-lo ao trabalho. Às vezes, um defeito vira característica de peça. Às vezes, não dá certo mesmo. Mas há de se entender que, para uma empresa, fazer o que não se sabe pode ser doloroso. É por isso que o criador tem de conhecer as técnicas, estar no chão de fábrica sempre, acompanhar os processos. A experiência vem, você passa a desenhar e traduzir sua criação para a fábrica e as coisas acontecem”, diz.
Sua iniciação no design, no entanto, ocorreu quase sem querer. “Eu, artista plástico, jovem, que tinha senso de equilíbrio e sabia o tempo de parar para não deixar a arte passar do ponto, pintava, nessa época, na mesa de jantar. Pensei em fazer um móvel especial, de vergalhão de construção civil e madeira. Isso é design, né?”, relembra. “Só que eu sou da fase do pós-modernismo, quando as coisas estavam meio desvitalizadas. Os fabricantes iam a Milão para copiar peças. As indústrias começaram a buscar designers e a tentar entender como isso funcionava.” E ele era um dos que estava por ali bem nessa hora.
Acima, a poltrona Nin
Para Sasson, o bom design, pelo menos o seu, começa com um bom briefing. A criação segue as vias da autoria, sem correr demais, de forma a não ser compreendida, nem ficar atrás, fazendo mais do mesmo. É um processo (olhe ele aí de novo) cultural. “Me dou a liberdade de não me prender a nada. Nem aos materiais. A única coisa que não uso é plástico, prefiro fibra de vidro, como os modernistas da Califórnia. Não sou minimalista, acho que sou designer meio sem estilo. É até difícil dizer o que é meu ou não. O que gosto mesmo é de explorar limites da matéria”, explica. A temática varia. “Algumas vezes desenho a peça unicamente pelo impulso estético. Outras vezes, falo de lembranças. Em outras, é só uma forma de juntar arte e função.”
Acima, a poltrona Carybé
Dono de amplo portfólio e mais de 40 prêmios nacionais e internacionais, Sasson anda experimentando mais. Suas linhas muitas vezes beiram à experiência artística, especialmente nas peças de produção limitada, de olho nas possibilidades industriais de execução. Sim, a execução. Sempre ela.
Atualmente, o designer fica em Gramado, no Rio Grande do Sul, perto das grandes indústrias moveleiras. A capacidade de produção da região e a cultura construtiva representam seu pensamento como designer, e a proximidade com as fábricas consegue otimizar o processo. Rio, São Paulo, Milão, Nova York e outro centro pulsante de energia criativa ficam para os contraturnos.