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Ideias iluminadas

Do cobre ao tecido, a designer Cris Bertolucci transcende materiais e entrega na surpresa da simplicidade peças que rememoram e contemplam uma trajetória de quase quatro décadas de inovação.

POR JULYANA OLIVEIRA

São quase 40 anos de carreira, sendo os últimos 13 deles à frente de seu estúdio homônimo.
A trajetória da designer de luminárias Cris Bertolucci é pautada na inovação e na busca pela combinação de forma e função. Para tanto,

não há medo em experimentar materiais e as ideias surgem do cotidiano e em grande volume. “Eu faço muitos desenhos, até para ter um registro das ideias. De vez em quando, retorno a eles e alguns me arrancam o seguinte pensamento: eu devia estar louca, isso aqui ficaria horrível”, ri a profissional.

Quem passou por seu estande durante a SP-Arte 2022 pôde conferir de perto um pouco do olhar completo da designer e, sob uma perspectiva analítica, a maturação de suas técnicas e conceitos. Em um espaço de pouco mais de 30 metros quadrados, Cris apresentou quatro novas coleções, cada uma explorando um material diferente: acrílico, alumínio, tecido e tijolo baiano. “Recentemente passei a produzir pequenas peças que não são luminárias”, conta sobre os bancos de tijolos apresentados na feira. “Nos últimos anos, tenho me sentindo mais confortável para experimentar mais, fazer mais loucurinhas”, revela.

O amadurecimento de seu estúdio, somado aos 25 anos nos quais trabalhou junto ao pai, Walter Bertolucci, na fábrica de luminárias da família, garante maior liberdade criativa e o processo de elaboração de produtos bem mão na massa. “Como eu me desenvolvi dentro de uma fábrica, os protótipos eram montados na hora. Então, até hoje, eu faço dois rabiscos para lembrar da ideia e parto para o molde”, conta Cris.

Formada em Desenho Industrial na primeira turma do curso do Mackenzie e com pós-graduação na área cursada em Firenze, na Itália, a designer sempre soube que seguiria pelo caminho criativo, mas o retorno ao Brasil trouxe um percalço. “Quando voltei, fiquei perdida, porque as empresas aqui não contratavam designers. Aí pensei: vou trabalhar com meu pai”, relembra. Na época, em 1984, a fábrica produzia produtos bem comerciais, realidade que pouco a pouco foi transformada pelo olhar conceitual de Cris. E, assim, a Bertolucci tornou-se uma das pioneiras no Brasil ao combinar iluminação e design.

Mas nada aconteceu da noite para o dia. “Para trabalhar com produto nos anos 1980/1990, eu tive de inventar uma série de novos processos produtivos até começar a colocar produtos especiais, com outra linguagem. Foi uma trajetória longa”, conta. Nessa caminhada, um dos pilares mais valorizados pela designer são as relações cultivadas com seus fornecedores. Nas palavras de Cris, os designers têm de sambar com o que está na mão, nessa construção de parcerias, os materiais são muito mais do que um diferencial competitivo no mercado, mas uma fonte de inspiração para o desenvolvimento de ideias.

“Meu perfil é esse, de ir explorando novos materiais dentro do processo produtivo para tirar uma coisa inusitada”, explica a designer, que acrescenta não haver um ponto de partida exato. A convivência com o material, a natureza e o cotidiano a inspiram, mesmo que a demanda de mercado por novas coleções seja intensa e regular, Cris não coloca regras ou requerimentos específicos em seu fluxo. “Dentro da minha cabeça, sempre tenho algumas ideias que vou colocar em prática. É uma coisa que não para muito. Às vezes acerto, às vezes erro, mas com o tempo criei certa liberdade e mais confiança no trabalho”, revela. Sobre as novas coleções e parcerias, Cris opta pelo mistério, e o único spoiler é aquele que prevemos com facilidade: que vem bossa e poesia por aí.

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