QUAIS HISTÓRIAS um adorno pode contar? E qual a importância política de gerar encanto e beleza? Essas são algumas das questões que Nádia Taquary explora em seu trabalho. Desde a infância, conviveu com um desses objetos: uma herança que sua família preservava como relíquia e que era colocada em seu pescoço com toda a cerimônia que um tesouro merece.
Nádia Taquary. Abre Caminhos (2013). Vídeo, prata, pastilhas e coco ebanizadas, cobre e prata. 350 x 60 cm
Essas joias, atualmente vendidas como souvenirs para turistas, fazem parte da história da população negra de Salvador, especialmente das mulheres que colecionavam amuletos de prata ou ouro, que integravam pencas e balangandãs. Cada peça adicionada à coleção representava uma poupança destinada à compra da alforria de alguém.
Na história brasileira presente nesses objetos, encantamento, beleza e luta pela liberdade são indissociáveis. No trabalho de Nádia Taquary, eles adquirem uma dimensão escultórica e monumental, evocando uma narrativa que transcende a perspectiva intelectual e toca o plano sensível.
Ao apreciar sua obra, somos confrontados com memórias sentimentais, registros da fé de quem criou esses adornos, uma história política e o entrelaçamento de saberes transatlânticos, africanos e portugueses.
Esse encontro em Salvador possibilitou o surgimento de designs genuinamente brasileiros, criados por mãos afro-brasileiras e informados por concepções sagradas e de resistência.