Neto de Mestre Luiz, filho de Zé do Mestre, ele continua o ofício de artesão que foi passado pelos antecessores. Além de criar roupas e acessórios com couro, também é repentista – mantendo outra tradição de quem vive no sertão nordestino
POR REGINA GALVÃO
“Nasci-me na Cacimbinha, neste belo torrão. Sou filho de Zé do Mestre e também sou artesão. Tornei-me um artista nato, hoje vivo do artesa- nato, por ofício e vocação”. O verso de Irineu do Mestre, que além de artesão é repentista, revela a herança artística dessa família que vive da zona rural de Salgueiro, município central de Pernambuco. O “do mestre” sugere que antes de Zé e de Irineu havia alguém superior nessa linhagem de artesanato, que era reconhecido e ensinou o ofício e a arte de cortar e moldar o couro.
Esse “alguém” era Luiz Eugênio Barbosa, o Mestre Luiz, o primeiro sapateiro a ganhar fama na região e que estreou no ofício aos 13 anos – embora ajudasse o pai desde os seis anos no riscado da pele, fazendo o primeiro par de sapatos que usou na vida. E, muito antes de passar o ofício para seu filho Zé do Mestre e, este, para um dos seus filhos, o Irineu, Luiz fez gibões para o amigo e xará Luiz Gonzaga, para o rei Juan Carlos, da Espanha, para o Papa João Paulo II, governadores e para centenas de sertanejos.
O mais bacana da arte dessa família, além da beleza dos trabalhos, é que a matéria-prima utilizada é subproduto da pecuária, totalmente afinada com a filosofia da sustentabilidade. Com couro bovino, caprino e ovino, Irineu do Mestre é a terceira geração a criar peças de vestuário e acessórios, entre eles, bolsas, cintos e sandálias. E também faz arreios para os vaqueiros, essencial para o sertanejo raiz.
E, seguindo a tradição dos antecessores, também tem clientes importantes: os músicos Dominguinhos, Gilberto Gil, Zé Ramalho e mais outros tantos. Também é o responsável para repas- sar o ofício para os filhos Bruno, Júnior e Lavínia. Morando na mesma fazenda que, assim como as técnicas de artesanato, foram herdadas da família, desenvolvem a prática da pecuária sustentável. Além disso tudo, Irineu faz seus repentes para hon- rar a tradição de quem vive no meio do sertão.
// FOTOS SALVADOR CORDARO / DIVULGAÇÃO