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O dono da Bossa

Nome de prestígio do design brasileiro, Fernando Prado brilha no segmento da iluminação. Dos projetos de luminárias, a linha de pendentes Bossa, criada em 2005, é a mais famosa delas, laureada mais de uma dezena de vezes em importantes premiações do Planeta

POR REGINA GALVÃO

Formado em design industrial pela FAAP, Fernando Prado enveredou pelo setor da ilumi- nação quando fez estágio na Lumini – na épo- ca, indústria voltada para o mercado coorpora- tivo. Já formado, foi trabalhar em um escritório de lighting design de São Paulo e aprendeu como conectar luminárias aos efeitos de luz. Anos depois, ele voltou à Lumini, onde hoje ocupa a direção criativa. Para a Dpot, marca premium do mobiliário brasileiro, ele projetou de sofá a centro de mesa. “Sempre penso como minhas peças vão melhorar a vida das pesso- as”, diz. Filho do arquiteto Eurico Prado Lopes (1939-1985), Fernando reconhece ter forte influ- ência do pai em seu ofício. Confira na entrevis- ta concedida à revista &Design.

& Design :: Com quais projetos você tem se envolvido?
Fernando Prado :: Luminárias portáteis e recarregáveis para espaços sem tomadas. Essa demanda surgiu de um cliente que precisava de abajures na sala, mas não tinha tomadas dispo- níveis. Decidimos explorar esse caminho, pois já dispúnhamos da tecnologia. Agora, estamos testando tipologias de portáteis, diversos usos e fachos de luz. Lançamos um modelo para área externa à bateria, que pode ficar na chuva.

&D :: Como tem sido a integração da luz com a tecnologia?
FP :: Aqui, chamamos os aplicativos de controle de Lumini Connect. A iluminação é gerida por aplicativo da mesma maneira que fazemos com os do celular.

&D :: Você projeta sem demanda?
FP :: Não, preciso ser provocado. O mobiliário, que demorei a projetar, virou uma paixão. Hoje tenho 12 famílias de produtos com a Dpot. No início, eu sentia frio na barriga, porque, no mobiliário, é difícil propor algo novo.

&D :: E como você faz isso acontecer?
FP :: Quando fui criar minha primeira cadeira, eu baixei um aplicativo com 3 mil modelos. Precisava ver o que tinha sido feito para não correr o risco de fazer algo parecido, porque pode acontecer. Na iluminação, eu sei o que existe. No mobiliário, é muita história, mais volume de produtos.

&D :: A Lumini convida arquitetos para criar luminárias. Como são essas escolhas?
FP :: Quem faz essa curadoria hoje é a jornalista Clarissa Schneider. São sempre três designers escolhidos de comum acordo conosco. Da última vez, chamamos a Tetro Arquitetos, o MNMA Studio e a Sol Camacho. Com eles, dou suporte técnico, sugiro caminhos. Nessa relação, eu visto duas capas: a do designer, vendo até onde podemos ir com as propostas, e a do diretor criativo da indústria, sugerindo mudanças quando se faz necessário por questões de custos ou produção.

&D :: Essas experiências acrescentam ao seu trabalho?
FP :: Sim! Além de aprender muito, fico sabendo de seus con- ceitos que me fazem pensar fora da caixa. Chegam propostas diferentes, algumas mais comerciais, outras, institucionais. Há luminárias que não vendem tanto, mas são vendedoras, pois trazem o cliente para a loja e agregam valor à marca.

&D :: Como você acompanhou os lançamentos
da Euroluce, em Milão?
FP :: O Ricardo [Gutfreund, diretor de marketing da Lumini] visi- tou o evento e fez uma curadoria dos lançamentos. Dessa vez, foi o boom das portáteis. No Brasil, fomos um dos primeiros a ter essa tecnologia.

&D :: Como você vê o setor de iluminação nacional?
FP :: Tem muita gente importando e poucos desenvolvendo bons produtos. A maioria importa da China. São poucas as marcas com produtos de qualidade, menos ainda com bons projetos.

&D :: Existe hoje mais informação do cliente sobre a área?
FP :: Nosso objetivo sempre foi formar o cliente, principalmente o arquiteto que replica esse saber. A loja funciona como ferra- menta de conhecimento técnico. São 18 anos de loja, e acho que isso reverbera nos principais profissionais. Eles têm contratado cada vez mais lighting designers para os projetos, porque enten- dem a importância de contar com essa expertise.

&D :: A sustentabilidade está presente no processo de vocês?
FP :: Sim, e vai muito além do uso do LED. Reciclamos 100% do alumínio descartado, transformando-o em novas peças. Está ligada também à eficiência do produto e sua vida útil. O descarte de circui- tos eletrônicos é um veneno para o meio ambiente. Então, focamos em materiais recicláveis, economia de energia e durabilidade.

&D :: Quantas luminárias você já criou?
FP :: Cerca de 60, e metade já foi premiada – estamos perto dos 100 prêmios – no Museu da Casa Brasileira, no Red Dot, no iF Design Award, no Good Design Award e tantos outros. Esse é o reconhecimento de um trabalho colaborativo.

&D :: Você tem uma peça favorita?
FP :: Tenho um carinho especial pela Bossa. Foi a peça que ajudou a me consolidar nesse mercado. Aliás, alguns arquitetos dizem a seus clientes quando me encontram: “Esse é o Fernando, foi ele que desenhou a Bossa”. (risos).

&D :: Seu pai, um arquiteto renomado,
tem influência no seu trabalho?
FP :: Quando ele morreu, eu tinha 14 anos. Tenho desenhos dele que fui entender tempos depois. O do Mercado de Pinheiros, eu não acompanhei, mas fui muitas vezes à obra do Centro Cultural São Paulo. Entendi que nossas profissões têm o mesmo objetivo: melhorar a vida das pessoas, seja no espaço público, na cultura, seja no morar. O Centro Cultural é um exemplo, desde a inaugu- ração sempre foi muito usado.

&D :: Soube que você mudou de apartamento. Como foram as escolhas
de móveis e luminárias?
FP :: Foi um desafio e me coloquei na função do designer de interiores. Vi como é difícil combinar ambos sem errar. Gosto da luz do abajur, de luz difusa. O apartamento tinha boas luminárias, mas lâmpadas ruins, troquei todas. Me incomoda a luz esverdeada. Na Lumini, desenvolvemos fontes de LED que dimerizam e mudam de cor ao longo do dia. A iluminação afeta a qualidade de vida, e eu observo, da mi- nha janela, casas, ao entorno, com luzes muito brancas, e essa luz deixa você excitado ao fim do dia. Impossível relaxar e ser feliz assim.

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