UM LUGAR – CADEIRAS BRASILEIRAS CONTEMPORÂNEAS

No retrato, da esquerda para a direita: Adélia Borges, consultora da exposição; os idealizadores, Gabriel De La Cruz e Pedro Luna; e a curadora, Carolina Gurgel | Crédito de imagens Miti Sameshima

EXPOSIÇÃO REÚNE GRANDES NOMES E NOVOS TALENTOS DO DESIGN BRASILEIRO.

A exposição “Um Lugar – Cadeiras Brasileiras Contemporâneas” não se limita a uma mostra de design. A iniciativa amplia o olhar sobre a produção autoral brasileira e democratiza o acesso à cultura do design e da arquitetura, evidenciando o mobiliário como expressão de identidade, funcionalidade e experimentação estética.

Idealizada pelos designers e empreendedores Pedro Luna e Gabriel De La Cruz, a mostra integra a programação como um dos eventos âncora do DW! Semana de Design de São Paulo 2025 e acontece de até 23 de março. Com curadoria da arquiteta Carolina Gurgel e consultoria da pesquisadora e crítica de design Adélia Borges, “Um Lugar – Cadeiras Brasileiras Contemporâneas” apresenta um recorte expressivo do design nacional, reunindo 55 cadeiras que transitam entre tradição e inovação.

Exposição “Um Lugar – Cadeiras Brasileiras Contemporâneas” | Crédito de imagens Miti Sameshima – No retrato da primeira imagem (esquerda para a direita): Adélia Borges, consultora da exposição; os idealizadores, Gabriel De La Cruz e Pedro Luna; e a curadora, Carolina Gurgel | Crédito de imagens Miti Sameshima

A seleção curatorial destaca a produção contemporânea dos últimos 20 anos (2005-2025), reafirmando a importância da cadeira como um dos objetos mais icônicos do design e da cultura material da humanidade.

A edição de 2025 amplia ainda mais a diversidade da produção brasileira, reunindo peças de 11 estados diferentes e apresentando 29 designers que não participaram da edição anterior. A mostra reforça seu compromisso em revelar novas perspectivas e abordagens no design, destacando a constante renovação e experimentação no setor.

Ao centro, a poltrona Sobreiro, do Estúdio Campana; nas laterais, a cadeira Portuguesa, de Claudia Moreira Salles para a Dpot Brasil

Entre os designers premiados e de reconhecimento internacional, estão Humberto Campana, do Estúdio Campana, referência global com peças nos acervos do MoMA e Centre Pompidou; Paulo Mendes da Rocha, ícone da arquitetura e do design brasileiro, reconhecido mundialmente pelo seu pensamento inovador e pela contribuição para a identidade do mobiliário nacional; Hugo França, pioneiro na reutilização de madeira, com obras em coleções e exposições internacionais; Cláudia Moreira Salles, nome consolidado no design brasileiro, com uma trajetória marcada pela precisão técnica e pela valorização dos materiais; e Juliana Vasconcellos, destaque no design contemporâneo, cuja presença global reforça a força criativa do Brasil no cenário internacional.

Entre os estúdios consolidados no Brasil e com presença crescente no exterior, fazem parte da exposição o Metro Arquitetos,representado por Gustavo Cedroni e Martin Corullon; além de Pedro Luna e Gabriel De La Cruz, cujos trabalhos exploram novas narrativas e diálogos entre forma, ergonomia e identidade cultural.

O evento também evidencia uma nova geração de talentos, criadores que vêm expandindo as possibilidades do design nacional por meio da experimentação material e da exploração de novos conceitos para o mobiliário contemporâneo. Vinícius Schmidit investiga o uso do bambu, enquanto Luiz Solano inova com a aplicação do acrílico em suas criações. Assimply propõe um olhar sustentável ao integrar resíduos na concepção de suas peças. Novidário apresenta um projeto inovador utilizando placas feitas a partir de tampas de garrafa, explorando novas possibilidades para o reuso de materiais. Luisa Attab, Leo Ferreiro, André Grippi e Desyree Niedo também integram esse grupo de jovens designers que exploram novas abordagens, com soluções que equilibram técnica, materialidade e função. Além disso, alguns desses nomes são residentes da Galeria Metrópole, reforçando a sinergia entre criação e território.

Os lançamentos de 2025 reafirmam a diversidade e o dinamismo do design nacional, trazendo novas perspectivas sobre o uso da madeira, do metal e das fibras naturais. A Tamborim, de Jacqueline Terpins para a Dpot, destaca-se pela leveza da palha natural aliada à robustez da madeira maciça. A Elo, assinada por Desyree Niedo, combina a elegância da madeira sucupira com o conforto do encosto estofado. O estúdio Pedro Luna apresenta a Terrinha, versão infantil da coleção Terra, explorando o contraste entre ferro cortado a laser e superfícies acolchoadas. Já a Itiquirinha, de Mariana Bueno para a Casa da Abelha, aposta na organicidade da madeira jequitibá maciça, enquanto aLista, de André Grippi para a Wooding, traz a resistência do cumarú em um design preciso e atemporal. Essas novas peças enriquecem o acervo da exposição e evidenciam a constante evolução do mobiliário brasileiro.

Da esquerda para a direita, cadeiras dos designers Gustavo Bittencourt, Arthur Casas, Metro Arquitetos, Ilse Lang, Gabriel de La Cruz e Juliana Vasconcellos

A CADEIRA COMO EXPRESSÃO DO DESIGN E DA CULTURA BRASILEIRA

Poucos objetos carregam tanto significado quanto uma cadeira. Esse elemento essencial desafia os designers tanto na estética quanto na ergonomia, exigindo um equilíbrio entre forma, função e inovação. Ao longo dos séculos, as cadeiras têm refletido o espírito de cada época e sociedade, incorporando avanços tecnológicos, transformações culturais e novas concepções estéticas. Muito além de sua função utilitária, elas simbolizam estilo de vida, pertencimento e relações sociais, acompanhando a evolução das formas e dos materiais.

No design moderno, peças icônicas como a Thonet No. 14 (1859), a Barcelona de Mies van der Rohe (1929) e a Eames Lounge Chair (1956) consolidaram-se como referências atemporais, traduzindo funcionalidade, conforto e inovação. Como observam Charlotte & Peter Fiell,autores do livro 1000 Chairs, “a cadeira é o artefato da era moderna mais desenhado, estudado e apreciado, tornando-se um elo entre estética, ideologia e sociedade”.

No Brasil, a produção modernista trouxe contribuições marcantes, consolidando uma linguagem autêntica e representativa do mobiliário nacional. A Poltrona Mole (1957), de Sergio Rodrigues, redefiniu a estética do mobiliário nacional com sua estrutura robusta e conforto extremo. Já a Cadeira Três Pés (1948), de Joaquim Tenreiro, inovou ao unir leveza e elegância ao design artesanal. Outro exemplo emblemático é a Cadeira Paulistano (1957), de Paulo Mendes da Rocha, reconhecida internacionalmente por sua simplicidade estrutural e sofisticação.

No contexto contemporâneo, a cadeira assume um caráter singular na evolução do design brasileiro, combinando criatividade, experimentação e herança artesanal. O diálogo entre tradição e inovação se manifesta na diversidade de propostas, desde o resgate de técnicas artesanais até o uso de novas tecnologias e materiais.

A curadoria valoriza a escolha de materiais e processos produtivos, que vão das técnicas artesanais às abordagens industriais. Entre a ergonomia e a experimentação, a cadeira se transforma, refletindo hábitos e modos de convívio que atravessam o tempo e as culturas.

Da esquerda para a direita, cadeiras dos designers André Carvalho, Estúdio Prosa, Carlos Motta, Hugo França, Studio Volanti, André Grippi e Jacqueline Terpins

TEXTO CURATORIAL | CAROLINA GURGEL

Desde sua criação, a cadeira é resultado de uma somatória de escolhas: materialidade, técnica construtiva, simbolismo, mobilidade e ergonomia. Idealmente, uma cadeira deve ser resistente, mas ao mesmo tempo leve e móvel. Sua ergonomia deve ser precisa, oferecendo um sentar confortável e correto. A complexidade de desenhar uma cadeira é um desafio instigante a muitos designers. O processo é uma equação em que muitas vezes para o autor não cabe a somatória de todas essas variáveis, optando por priorizar algumas delas. A transgressão dessa fórmula ideal da cadeira, somada ao acesso a diferentes tecnologias e materiais, resulta no cenário atual amplamente diverso.

Buscamos trazer um recorte da produção nacional contemporânea neste ‘Um Lugar’, no qual apresentamos as múltiplas possibilidades da cadeira, explorando formas, métodos de fabricação, materiais, origens, usos e escalas. Com a iniciativa de Gabriel De La Cruz e Pedro Luna e sob a orientação de Adélia Borges, reunimos cadeiras produzidas em 12 estados brasileiros, confeccionadas em madeira, cortiça, bambu, acrílico, couro, plástico reciclado, pedra, metal, tecido e concreto.

Aliada à grande variedade de materiais, é notável uma maior liberdade na exploração da forma e do uso – braços simplesmente como adornos ou a extrapolação das dimensões do encosto da cadeira para além do convencional. Vale também citar o produto compreendido como processo e não apenas como resultado, muitas vezes tornando-se peça única ou de baixa tiragem.

Outro ponto curioso da cadeira é o seu uso prolongado se desdobrar em desenhos específicos para funções predeterminadas. Na exposição, temos exemplares de escritório e uma peça própria para oficinas de marceneiros. Vale citar também usos mais corriqueiros como salva-vidas, cabeleireiro, engraxate ou avião.

A expografia traz uma mesa central no formato de um grande rio circundado por cadeiras. Nas laterais, mesas que sobem nas paredes aludem a cachoeiras. As cores demarcam os quatro núcleos expositivos: escritório, área externa, área interna e infantil. Mais uma vez, é com orgulho da riqueza e diversidade do design nacional contemporâneo que convido vocês a visitarem esse Um Lugar de possibilidades e desdobramentos.”

Da esquerda para a direita, cadeiras dos designers Bia Rezende, Baba Vacaro, Vinicius Siega, Pedro Luna, Osvaldo Tenório e ,OVO

ELENCO EXPOSITIVO

A exposição “Um Lugar – Cadeiras Brasileiras Contemporâneas” apresenta um panorama significativo do design brasileiro, reunindo grandes nomes do setor, cuja influência se expande no contexto internacional

O elenco é formado por Alexandre Kasper, Ana Neute, André Carvalho, André Grippi, Arthur Casas, Assimply (Victor Xavier e Søren Hallberg), Baba Vacaro, Bia Rezende, Carlos Motta, Casa da Abelha (Mariana Bueno), Cláudia Moreira Salles, Dengô (Aline Almeida e Carlos Batista), Desyre Niedo, Dimitrih Correa, Estúdio Campana, Estúdio Marcenaria Joaquina, Estúdio Pedro Luna, Estúdio Prosa (Julia Rovigo e Gabriel Pesca), Felipe Protti (Prototype), Fernando Jaeger, Fernando Prado, Giácomo Tomazzi, Gustavo Bittencourt, Guto Índio da Costa, Hugo França, Humberto da Mata, Ilse Lang, Jader Almeida, Jacqueline Terpins, Juliana Llussá, Juliana Vasconcellos, Junior Brandão, Leo Ferreiro, Leandro Garcia, Luiz Solano, Luisa Attab, Metro Arquitetos (Gustavo Cedroni e Martin Corullon), Morito Ebine, Novidário (Luciana Sobral e José Machado), Noemi Saga, Osvaldo Tenório, OVO (Luciana Martins e Gerson de Oliveira), Paulo Alves + FGMF, Paulo Mendes da Rocha, Rafael Espindola, Pierre Colnet e Hadrien Lelong em colaboração de Guilherme Wentz, Porfírio Valladares, Ricardo Graham Ferreira, Rodrigo Ambrósio, Studio de La Cruz (Gabriel De La Cruz), Studio Volanti (Lucas Rosin e Roberto Leme), Tiago Curione, Vinícius Schmidt (Estúdio Simbiose) e Vinícius Siega.

Da esquerda para a direita, cadeiras dos designers ,OVO, Pierre Colnet e Hadrien Lelong em colaboração de Guilherme Wentz, Novidário, Luisa Attab e Dengô

CRÉDITOS | “UM LUGAR – CADEIRAS BRASILEIRAS CONTEMPORÂNEAS”

Realização e Projeto Expográfico:

Studio De La Cruz | @studio.delacruz

Estúdio Pedro Luna | @estudiopedroluna

Curadoria: Carolina Gurgel | @carol.gurgel.arq

Consultoria: Adélia Borges | @borges_adelia

Ilustrações em aquarela: Iury Simões | @iurysimoes.art

Fotografia: Miti Sameshima | @mitisame

SERVIÇO

Exposição: “Um Lugar – Cadeiras Brasileiras Contemporâneas”
Local:
3º andar da Galeria Metrópole – Avenida São Luís, 187, Centro, São Paulo, SP
Data: até 23 de março de 2025
Horário: das 10h às 20h

Entrada gratuita

Patrocínio: Sherwin-Williams
Apoio: DW! Semana de Design de São Paulo

 

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