Havia um lugar e o desejo de fazer uma exposição. “Que tal banquinhos, apenas banquinhos?”, sugeri, com a ideia de oferecer um panorama da produção contemporânea do design brasileiro. Gabriel e Pedro não só acreditaram na minha proposta, como tive a alegria de ser convidada a fazer a curadoria. Ao olhar para a produção de banquinhos dos últimos 15 anos, é surpreendente a abundância de peças interessantes dentro dessa tipologia. A seleção, com a consultoria de Adélia Borges, foi orientada pelo desejo de ilustrar a pluralidade da produção nacional. Clique abaixo para aumentar.
O banco, apesar da sua simplicidade, tem uma polivalência que muitas vezes passa despercebida. Libertamos o banco do chão para sua existência transbordar para além de assento e servir como apoio, adorno, degrau, entretenimento, ferramenta de ensino. O curioso é que, por ser um móvel relativamente simples – um plano para servir de apoio -, é comum sua produção por muitos designers, o que permite uma grande exploração, tanto construtiva como formal. Essa liberdade pode ser percebida também na materialidade das peças, que vão desde madeira, aço, inox, bronze, tecido, couro, plástico, vidro, até cerâmica e lã.
É com entusiasmo que se observa a efervescência do design pelo país. Estão presentes na exposição designers em atividade, de diferentes gerações e vindos de todo o Brasil. A própria Galeria Metrópole, que sedia a mostra, ilustra o movimento emergente de jovens designers autorais. Por fim, em uma conversa, Paulo Herkenhoff sugeriu a disposição dos bancos na mostra como uma sinfonia. Assim, fizemos os arranjos, colorimos as partituras com as cores de Janete, dispusemos a orquestra e o resultado é uma rica polifonia de materiais, volumetrias e técnicas construtivas. Convido-os, então, a conhecer esse um lugar.
ADéLIA BORGES
Quem me conhece sabe de minha paixão por banquinhos. Essa tipologia de móveis está praofundamente enraizada na cultura brasileira. Eles não explicitam nem fortalecem a hierarquização da sociedade. Antes, estabelecem um relacionamento de igual para igual entre seus usuários. Não têm parte da frente ou de trás e em geral podem ser deslocados facilmente, atendendo com versatilidade a outras funções, como apoio para pés, mesa lateral ou suporte para ajudar a alcançar prateleiras altas.
Já fiz exposições sobre banquinhos brasileiros em Paris (2006, Ano Brasil na França), Amsterdam (2012) e Milão (2017), entre outras cidades. Foi então com satisfação que recebi o convite para participar deste projeto.
Quatro décadas separam meu ano de nascimento daquele dos designers e arquitetos que estão trazendo um novo vigor à Galeria Metrópole, no centro de São Paulo. Quando me procuraram, já tinham mapeado vários exemplares, atestando que o design de bancos se encontra em contínua renovação. Não me cabia mais do que “amadrinhar” a iniciativa, fazendo uma consultoria à distância e saudando a entrada da nova geração às curadorias de design, aqui representada por Carolina Gurgel. Que bom ver jovens tomando a frente de iniciativas como essa. Minha alegria é ainda maior porque tenho uma ligação com os dois apoiadores que abraçaram a causa.
A convite do colega Paulo Herkenhoff fui uma das autoras do livro Móvel Brasileiro Contemporâneo, editado pela FGV Arte; e integro a caravana que a Sherwin Williams vem realizando para promover a paleta “Cores de Janete”, em homenagem à grande arquiteta, designer e curadora Janete Costa, de quem fui (sou) aprendiz. Só tenho a celebrar essa conjunção de acontecimentos, que vêm na direção de impulsionar a diversidade e a riqueza de nosso design. Clique abaixo para aumentar.
Ilustrações Neco stickel (@robertostickel)