A arquiteta e apresentadora Bel Lobo realiza o sonho de desenvolver projetos comunitários.
Desde criança, Bel Lobo já imaginava que virar “gente grande” era algo mais do que simplesmente trabalhar e se sustentar. Sonhava em fazer diferença – em todos os sentidos. O tempo passou, Bel virou arquiteta badalada – assinando projetos de lojas como Farm, Arezzo, Salinas, Richards e Livraria da Travessa, entre tantos outros –, mas a essência (e os sonhos) da infância se mantiveram firmes e fortes. “Eu brinco que sou uma hippie das antigas, que acredita que todos podem e devem se ajudar. Tento fazer a minha parte porque, acima de tudo, é algo que me alimenta e faz bem”, conta.
Acima: Vista interna do projeto da Biblioteca e maquete em 3D do Centro Cultural Histórias Que Eu Conto, projeto de Bel Lobo desenvolvido em parceria com o seu escritório, Be.bo.
Essa busca por uma arquitetura mais social se materializou na sua rotina profissional há cerca de 10 anos, quando Bel propôs um desafio para toda a equipe do seu escritório (Be.bo): o projeto (voluntário) de planificação do Centro Cultural Histórias Que Eu Conto, na Vila Aliança, área carente no subúrbio carioca. “Desenhamos uma biblioteca, cujo teto viraria uma praça para os jovens soltarem pipa. A construção em si não aconteceu, mas a vivência foi extremamente transformadora para os que participaram”, lembra.
Mais tarde, com a consultoria do Instituto Phi, de Luiza Serpa – voltado para traçar estratégias de filantropia –, ela foi além, buscando ideias para investir na área de educação, seu maior foco de interesse. “Passei a colaborar com o Instituto Uerê, da Yvonne Bezerra de Mello, no Complexo da Maré. Pagava do meu bolso uma das professoras e acompanhava de perto o incrível trabalho deles”, diz.
Teve ainda a Escola Municipal Joaquim Nabuco, em Botafogo, lugar onde Bel estudou, que se encontrava muito abandonado. “Bati um dia na porta e me propus a ajudar no que fosse possível. Acabei pintando todo o segundo andar, deixando os ambientes organizados para os alunos. Uma vitória”, revela.
Próxima de completar 60 anos, repleta de projetos no escritório, Bel, sempre inquieta, se sentiu acomodada e resolveu que devia dizer “sim” para tudo o que lhe interessasse. “Me senti livre para arriscar, me jogar de cabeça mesmo. Estava na hora”, lembra. Foi então que criou o programa “Quem Mandou me Convidar?” – na esteira do sucesso que conquistou com o “Decora”, apresentado por ela em sete temporadas no canal de assinatura GNT.
Com divulgação on-line pelo YouTube, o “Quem mandou” acontecia a partir de uma demanda da comunidade, desencadeando uma rede em cadeia para efetivar o projeto em questão. Na primeira temporada, que aconteceu em 2018, ela foi convocada para construir a biblioteca de uma escola pública em Paraty. “Eu adorei a experiência, mas foi algo que fiz na marra. Consegui alguns patrocinadores, no caso, a Deca, chamei meu filho Antonio, que tem a Ziggy Filmes, para dar um suporte. Nós nos instalamos por quase um mês em uma pousada local, vivendo a rotina de filmagens e produção. Um grande aprendizado, que rendeu frutos para a comunidade”, lembra.
Imagem das filmagens do “Quem Mandou me Convidar ” em Tiradentes
Agora, Bel está envolvida em um novo formato do “Quem mandou”, dessa vez em Tiradentes (MG), construindo a Escola da Semana, criada para disseminar ofícios de artesãos locais. “O convite veio dos organizadores da Semana Criativa, evento anual que acontece ali. Só que em vez de ser apenas eu à frente da empreitada, convoquei vários designers para desenvolverem o projeto junto, reformando uma escola rural que estava abandonada. Um processo lindo”, conta.
Outro projeto que já está montado – e do qual Bel muito se orgulha – é o Instituto Vida Livre, com Roched Seba, que chegou a ela pela indicação de Ademir Bueno, parceiro de vários trabalhos e head de Design e Tendências da Tok&Stok. “O Roched precisava de alguém para fazer a sede, em um sobrado no Horto, no Rio. Reformamos, conseguimos doações e ficou muito bacana”, elogia Bel, que atualmente monta um viveiro para vida silvestre próximo ao arboreto do Jardim Botânico, numa casa vizinha ao antigo Teatro Tom Jobim. “Vai ser o centro de soltura dos animais”, acrescenta.
Verdade é que são muitos os projetos para os quais Bel diz “sim” – e todos pro bono, ou seja, sem remuneração. “Tive até de criar uma empresa paralela, a Be.lo, e contratar uma assistente para cuidar dessas iniciativas, que não fazem parte da agenda da Be.bo, meu escritório com Bob Néri, sócio e ex-marido. Gasto uma fortuna, mas sou assim, fazer o quê? Quero salvar o Planeta”, brinca. A questão, agora, é como viabilizar todas essas iniciativas de forma sustentável. “Ando até pensando em promover eventos no terreno/galpão que tenho em frente ao Jardim Botânico, lugar que adoro e pretendo um dia construir minha casa. Acho que seria lindo ver esse espaço, à sombra de uma mangueira centenária, ser usado de forma criativa”, sonha, já colocando a mão na massa para deixar a área mais organizada. “De alguma maneira, quero financiar a Be.lo. E conseguir fazer tudo o que acredito. Com força e sabedoria”. Salve, Bel.
// Por Simone Ratzik – @Ratzik