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BANHEIRO, NÃO: SPA EM CASA

O modo de viver está mudando e, com ele, o banheiro, que extrapola suas funções básicas e se torna ambiente para relaxamento e rotinas de cuidados pessoais.

POR NATÁLIA MARTUCCI

Se os banheiros dos apartamentos lançados pelo mercado imobiliário nacional são muitas vezes pequenos, não é porque o consumidor os prefere assim. “O banheiro ideal é uma sala de banho, o que faz lembrar o banheiro da casa da avó”, diz Mateus Silveira, diretor do Design Office do Grupo Dexco, que detém marcas como Deca, Hydra, Ceusa e Durafloor. O complemento dessa ideia vem na fala de outra profissional da empresa, Marcele Brunel: “O grande anseio é que o banheiro seja espaçoso, com cubas e chuveiros duplos – bacias nem tanto. É a garantia de privacidade mesmo quando o espaço é compartilhado”, afirma a gerente de Design Estratégico. Os resultados de diversas pesquisas recentes realizadas pela Dexco, ora pela internet, ora com entrevistas em profundidade e visita a residências, fundamentam as informações e análises feitas pela dupla.

Esses mesmos estudos – como o Futuro do Morar e o Experiência do Banho – revelam que o banheiro ideal propicia conexão com a natureza. E faz isso de diferentes modos: incluindo plantas, com aberturas que permitem ver o verde na área externa e/ou com materiais de textura natural, como seixos e madeira. Também atestam que o conforto – emocional, físico e intelectual – virou palavra de ordem nas casas, principalmente após a pandemia de covid-19, e é exigência até no banheiro, como salienta Marcele: “Para nossos entrevistados, o conforto tem uma relação direta com o bem-estar e vem com a exploração sensorial. A gente sabe que o visual e a audição são importantes, mas, agora, o tato e o olfato aparecem com uma força muito grande – o tato abraça”.

Cubas de apoio desenvolvidas por Rodrigo Ohtake para a Roca.

O ritmo frenético da vida contemporânea exige que, no fim do dia, haja uma desaceleração. “As pessoas querem chegar a suas casas e ter um oásis próprio”, avalia Ana Paula Passareli, diretora de Marketing da Kohler América Latina. E continua: “O banheiro traz essa possibilidade, principalmente do autocuidado, tão evidenciado e extremamente necessário atualmente”. É autocuidado com experiências restauradoras unindo corpo e emoções, gerando relaxamento, que leva ao bem-estar.

As percepções de quem está dentro da indústria vão na mesma linha do que apresentou a jornalista Eliana Sanches, especializada em estética e gestão de moda, em uma das muitas palestras do último festival DW São Paulo, em março passado. Segundo a profissional, existe a tendência de que o banheiro residencial se transforme em spa, fazendo a “transição de um ambiente funcional e prático, ligado à higiene, para um espaço luxuoso e equipado para o hedonismo”. Dados compartilhados por ela, coletados junto ao Pinterest Predicts 2024, dão conta de que o interesse por uma rotina de cuidados corporais cresceu 102% entre os mais de 480 milhões de usuários da plataforma, enquanto o interesse por cuidados no formato spa aumentou 60%. Eliana também contou sobre um fabricante de revestimentos que descobriu por meio de uma pesquisa, nos Estados Unidos, que quase 70% dos designers e arquitetos e 53% dos moradores querem banheiros inspirados nos de hotéis.

COMPARTILHAMENTO E CONCILIAÇÃO

Ao mesmo tempo que “o banheiro é o único lugar da casa onde as pessoas geralmente podem ficar sozinhas”, como lembra Ana Paula, da Kohler, ele também tem seu uso compartilhado por diferentes membros da família – simultaneamente ou não. É aí que moram vários problemas pois, como observam os especialistas da Dexco, as pessoas precisam conciliar, dentro de um mesmo espaço, diferentes entendimentos sobre organização, limpeza e até jeitos de usar os produtos. Sem falar em horários e outras necessidades. “A maior preocupação é: ‘Poxa, eu quero ter um banho incrível, mas eu divido o banheiro com o meu filho e a forma como eu faço o banho dele não é exatamente como eu tomo banho. Então, como eu concilio tudo isso?’. As discussões sobre compartilhamento foram muito interessantes”, diz Marcele.

Monocomando de banheira, linha DECA YOU.

As entrevistas realizadas durante as pesquisas evidenciaram que, embora a privacidade no banheiro seja um desejo forte, também há quem queira fazer um uso social desse ambiente, ainda que não frequentemente. “As pessoas disseram que poderia haver uma poltrona, um sofá ou uma banheira enorme para caber toda a família”, continua Marcele.

Para os adolescentes, o banho é um momento de isolamento e privacidade, de descoberta do próprio corpo e da sexualidade, o que pode causar estranheza e incômodo no restante da família. Quando se fala em idosos, o banheiro apresenta o desafio de ser confortável e seguro, sem apontar para o envelhecimento do usuário. Os pisos precisam ser especialmente à prova de escorregões, e são recomendados itens de apoio. Para mostrar que segurança e beleza são compatíveis e que os banheiros podem ser cada vez mais acolhedores e acessíveis, a Deca acaba de lançar barras de apoio que decoram e organizam objetos e, por isso, também cabem em cozinhas, salas e quartos, entre outros ambientes. O design da linha Deca Care é assinado pelas arquitetas Mariana Quinelato e Flavia Ranieri, especialistas em design inclusivo, que procuraram desenvolver produtos para banheiros compartilhados por pessoas de diferentes idades e necessidades de locomoção.

TUDO COMEÇA E TERMINA NO CONSUMIDOR

Informações como as trazidas por esses estudos servem para orientar o desenvolvimento de louças, metais, revestimentos e acessórios em sintonia com os desejos dos consumidores. “O design e a tecnologia só fazem sentido quando contribuem de forma inteligente para o bem-estar. Isso se aplica a torneiras, chuveiros e acessórios”, diz Anderson Morais, diretor de marketing da Docol Mekal. Marcele, da Dexco, faz coro com o concorrente: “Antes de considerar qualquer questão estética, as pessoas pensam em como aquele item vai facilitar a vida delas. Existe uma preocupação muito grande com a praticidade, com o dia a dia. Qualquer que seja o produto, ele precisa ser um facilitador e não um empecilho”.

Ducha da coleção Statement, KOHLER.

Os aprendizados de hoje vão se refletir em lançamentos no futuro, já que o ciclo de desenvolvimento de produtos varia de um a dois anos, geralmente. Ainda assim, há inovações, já em andamento, cuja assertividade foi confirmada pelos estudos. “As pesquisas constataram que a barba na pia é uma dor para a maioria das mulheres, e a gente já tem uma válvula que foi desenhada para evitar o entupimento por pelos e cabelos”, conta Matheus, da Dexco. No caso da Kohler, a fusão de design, qualidade, inovação

e tecnologia objetiva oferecer bem-estar e realidade sustentável para os consumidores. Dois produtos exemplificam essa filosofia, segundo Ana Paula, do marketing: “Temos o nosso chuveiro Moxie, que toca música, e uma ducha que permite relaxar e se refrescar sem peso na consciência, já que mistura ar, com pressão, à água, viabilizando uma economia de até 80% dessa última”.

A Docol, por sua vez, acaba de lançar a linha DocolTwist, para salas de banho, com peças em que design e funcionalidade são indissociáveis. Além disso, os itens autorizam usos variados. O banco, por exemplo, pode estar dentro da área molhada do chuveiro, mas funciona igualmente como apoio à banheira ou pode até mesmo ocupar espaço no quarto, de acordo com a designer Ana Neute, que assina as criações. “A linha foi concebida para extrapolar a função básica das necessidades e ajuda a criar um ambiente de fruição em salas de banho. A diversidade de tipologias com um mesmo partido cria uma linguagem coesa, com acessórios que podem ser combinados entre si e com uma decoração existente”, explica.

Enquanto alguns dos produtos apresentados na virada do primeiro para o segundo trimestre de 2024 já respondem às tendências, outros estão por vir. Como lembra Marcele, da Dexco, “não é porque uma tendência já está acontecendo que ela não é algo do futuro. Ela pode estar com um sinal fraco hoje e ganhar força depois”. E é para isso que servem as pesquisas: para identificar o que vem pela frente e para tomar consciência das mudanças de comportamento que já estão começando.

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