Com pesquisa e expedição de campo pelo Brasil, há décadas Renato Imbroisi ajuda a resgatar, revitalizar e divulgar uma área da cultura que era pouco valorizada: o artesanato.
Por Eliana Castro | Fotos: Helena Wolfenson
A Escola de Artesanato do Muquém – onde serão oferecidos cursos de bordado, costura e tecelagem, entre outros – tem um significado muito especial para o artesão Renato Imbroisi. Foi a partir de lá, do Distrito de Muquém de São Lázaro, parte do município de Carvalhos, no sul de Minas Gerais, que ele iniciou seu projeto de revitalizar, transformar e divulgar a história do artesanato brasileiro. Também foi a partir desse ponto que ele começou sua expedição, que já dura mais de 40 anos, em um Brasil que não era muito valorizado.
Desde garoto, quando passava férias na casa de sua família no sul mineiro, ele se apaixonou por um país de gente muito simples, que, com as mãos, produzia outro tipo de riqueza, feita de linhas, fibras, barro e vários materiais, a que a maioria das pessoas da cidade não dava valor. Foi graças ao olhar de gente curiosa como Renato que o artesanato brasileiro passou a ser reconhecido não apenas por estrangeiros, mas pelos próprios brasileiros que se interessam por arte e por design.
Pesquisa e identidade locais
Carioca, criado na Urca, Renato se interessou por tecidos, encantado com o trabalho de uma avó, que modelava no corpo as roupas das artistas do Cassino da Urca. Aos 15 anos, montou seu próprio tear e passou a produzir pulseiras e tiras de tecidos, que, nos anos 1970, viram tangas e biquínis que desfilavam nas areias de Ipanema e nos bailes de Carnaval.
Cinco anos depois, Renato mergulhou fundo na pesquisa em Muquém. “Era algo muito novo. Ninguém costumava chegar em uma comunidade para desenvolver um trabalho coletivo. Já nessa experiência, minha ideia não era desenvolver uma produção que não tivesse conexão com o lugar”, conta ele, que se fixou ali por cerca de dez anos. “Sempre achei importante olhar o que faziam, entender suas histórias, tecnologias e heranças para manter a identidade local, essencial na produção do artesanato.”
“Sempre achei importante olhar o que faziam, entender suas histórias, tecnologias e heranças para manter a identidade local, essencial na produção do artesanato.”
Artesanato x turismo Brasil adentro
Essa experiência em Muquém deu a base necessária para que Renato continuasse sua expedição para outras partes do país. Primeiro, veio um convite do Sebrae para desenvolver um projeto piloto em Brasília. Outras oportunidades apareceram e o artesão e pesquisador não parou mais. Hoje ele pode dizer, sem exagero, que conhece o artesanato de 27 estados do Brasil – e de outros países, como Moçambique.
Entender suas histórias para manter a identidade local, essencial na produção do artesanato.
São viagens em que acontece uma enorme troca com os artesãos locais. “Nos anos 1990, estive em Tocantins e fiquei emocionado ao conhecer uma matéria-prima que nunca havia visto antes: o capim-dourado. Na hora, entendi a riqueza do material, ainda desconhecido para muita gente”, diz. Atualmente, ele está apaixonado pelo artesanato da Ilha do Ferro, em Alagoas. “Ali há pessoas produzindo coisas incríveis.”
Para Renato, um ponto que vale a reflexão quando se pensa em artesanato é sobre como ele pode andar juntamente com o turismo. “Mas é preciso tomar cuidado, porque há lugares em que o turismo cresce muito e as mulheres abandonam o artesanato e vão trabalhar como faxineiras ou se mudam para outras áreas, abandonando o artesanato. Além disso, começa a miscigenação dessa arte, perdendo-se a identidade local.
Quando isso acontece, é uma pena”, diz. Mas nem sempre é assim. “Tiradentes (MG) é uma cidade turística há anos, no entanto ainda tem muita produção de mestres e artesãos.”