JOSÉ ADÁRIO NOS CAMINHOS DO FERRO

A presença da obra de José Adário em grandes galerias e museus demonstra que a arte já não se limita ao conceito fechado, branco e europeu que aprendemos na infância.

JOSÉ ADÁRIO, ainda jovem, recebeu o apelido de Zé Diabo enquanto fazia entregas de ferramentas de Orixás no Mercado Modelo. As peças, feitas de barras e chapas de ferro retorcidas e soldadas, formavam tridentes, lanças, espirais, serpentes e folhas, organizadas conforme os preceitos das religiões afro-brasileiras.

Toda a sua família era devota de Ogum, o deus ferreiro que ensinou a humanidade a forjar o metal e a abrir caminhos. Tanto o candomblé, religião em que foi iniciado na infância, quanto “o caminho do ferro” fazem parte de sua linhagem. Assim, sua formação familiar e religiosa se aliou ao ofício de moldar ferramentas, portões e agogôs, aprendido ainda criança com o mestre Maximiano Prates.

José Adário dos Santos. Ferramenta de Exu Gira Mundo (2020). Ferro, solda e verniz. 70 x 30 x 16 cm

 

Para José Adário, sua produção permanece essencialmente religiosa: seus processos são sagrados e seguem preceitos herdados ao longo de gerações.
A presença de sua obra em grandes museus e galerias evidencia que a arte já não se restringe a um conceito fechado, separado da experiência social de quem a cria, e que a história da arte deixou de ser linear e evolutiva.

Assim como ele, outros artistas do Brasil e de Salvador integram religião e prática artística. Mesmo quando muitos deles possuem formação acadêmica em artes, veem sua prática como a continuidade de longas tradições míticas. Nessa perspectiva, uma escultura é apenas a parte visível de um iceberg que atravessa gerações, permeia toda uma vida e remonta aos tempos imemoriais do continente africano.

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