Fenômeno recente, a moda digital levanta dúvidas sobre questões como o consumismo e mesmo a sustentabilidade.
Por Bruna Galvão | Fotos: Angelo Castro, Dcoena, Lucas Leão, Studio Acci @studio.acci, Sonni @sonnigraphics
“Como faço para entrar no metaverso?”, escuta com frequência Je Kos. “As pessoas perguntam como se houvesse uma porta para entrar”, diz ela, que é coordenadora criativa da Brazil Immersive Fashion Week (BRIFW), uma plataforma latino-americana dedicada a conexões entre moda, música, arte, cultura e novas mídias digitais imersivas, que chega à terceira edição em 2022.
Em plena Era Digital, nem tudo o que é digital tem facilidade de ingresso e acesso ao mercado e ao consumidor final. Uma delas é a moda digital, em que todo o processo de confecção de roupas e acessórios é feito de maneira virtual, para ser provado também no virtual – no metaverso, o cliente pode se vestir e compartilhar o seu look em alguma rede social.
Nesse admirável mundo novíssimo, os desfiles virtuais e o showroom 3D são apenas mais algumas das possibilidades que o setor tem implementado.
A BRIFW reúne o trabalho de diversos colaboradores do Brasil e do mundo. Ali, estão desde criadores autodidatas, codesigners, artistas 3D e estilistas digitais até grandes empresas.
No processo de comercialização de peças de uma das coleções digitais lançadas na plataforma, assinada pelo estilista Lucas Leão, o consumidor enviava uma foto com roupa e o tom de sua pele, ou com uma roupa de banho, e a equipe colocava a peça digital em cima dela, sob medida.
Outro processo de aquisição da peça escolhida é por meio da RA (realidade aumentada), na qual se veste o look escolhido com ajuda de um filtro a ser aplicado no corpo do consumidor.
“A maior dificuldade do mercado (de moda digital) é a compreensão. As pessoas não entendem o conceito de metaverso, de web 3”, afirma Je, que há dois anos, com a BRIFW, também educou profissionais sobre os conceitos básicos de tecnologia que envolvem o projeto.
Como o segmento da moda digital ainda é algo que engatinha no Brasil, Kátia Lamarca, coordenadora e professora do Istituto Europeu di Design, destaca o surgimento desse mercado como o “braço tecnológico” que faltava no setor até então, dados os avanços da área digital.
“A moda reflete muito o contexto da sociedade e estava carente da imagem de vestuários, o que se acentuou com a pandemia”, explica.
Impactos
A moda digital atinge de imediato a indústria 4.0 ao produzir todo o look de modo virtual, antes de confeccioná-lo de forma física. Por meio do processo em 3D, é possível projetar caimento, quantidade de tecido, custo, modelagem, estamparia e tingimento, evitando desperdício de material.
A utilização de tecidos biodegradáveis também é outra vantagem. Je aponta o fast fashion como um ponto a favor da moda digital devido à sua versatilidade. “É a necessidade de ter um look diferente, sem repetir roupas nas redes sociais”, diz.
Por outro lado, Kátia questiona se a consciência sobre o consumo entre o físico e o virtual será mesmo solucionada. “É apenas trocar a plataforma de compra”, conclui.
Ela ainda aponta os abismos entre grandes e pequenas empresas na atuação do setor de moda digital como um possível problema, já que cerca de 90% das empresas brasileiras de moda são microempresas.
“O alto custo com a tecnologia é algo proibitivo a muitos empresários”. Ela também tem dúvida se a energia empregada no processo virtual é sustentável. Faltam mais estudos, pois é algo novo. Só o tempo vai dizer”, finaliza Kátia.