UMA NOVA ICONOGRAFIA AFRO-BAIANA

Professor, pesquisador, artista, curador e sacerdote das religiões de matriz africana, Heráclito enfrenta o desafio de recriar as representações dos orixás e do sagrado afro-baiano a partir da vivência íntima e profunda de quem pertence a esse universo

Professor, pesquisador, artista, curador e sacerdote das religiões de matriz africana, Heráclito enfrenta o desafio de recriar as representações dos orixás e do sagrado afro-baiano a partir da vivência íntima e profunda de quem pertence a esse universo.

A VONTADE DE CONTAR e criar representações sobre a vida e a religião do Recôncavo Baiano movem Ayrson Heráclito, que defende a importância de representar a população negra, historicamente carente de imagens que lhe confiram dignidade. Ele, no entanto, rejeita as formas tradicionais de representação impostas por parâmetros europeus, que isolam a arte de outras práticas sociais, como a religião. É importante notar que o mesmo processo histórico que autonomizou a arte na Europa, estabeleceu os brancos como sujeitos do conhecimento, enquanto as populações negras foram reduzidas a objetos de análise artística e intelectual.

Nessa perspectiva tradicional, muitos artistas e intelectuais criaram imagens e descrições que examinaram e detalharam a vida coletiva e íntima das populações africanas e dos adeptos do candomblé: uma religião iniciática em que certos rituais e experiências são exclusivos dos sacerdotes consagrados.

Assim, em suas performances, fotografias, pinturas, esculturas e instalações, Heráclito cria metáforas que evocam o universo afro-baiano sem defini-lo diretamente. Bori, por exemplo, é um ritual de cura no candomblé, em que alimentos são oferecidos para fortalecer a cabeça de uma pessoa, ajudando-a a enfrentar desafios vitais.

Para aludir ao ritual, Heráclito o recriou como uma performance em seu estúdio, não como uma reprodução fiel, mas como uma alegoria. Em vez de expor um
rito secreto do candomblé, ele o reinterpretou com o conhecimento de quem o vivencia, escolhendo como apresentá-lo ao mundo da arte e aos não iniciados. Dispôs alimentos, cânticos e objetos sagrados, recriando a atmosfera e as sensações do ritual, sem violar seus preceitos, respeitando a forma de viver, pensar e sentir do povo afro-baiano.

Ayrson Heráclito. Série Bori (2009). Fotografia. 100 x 100 cm

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