Apaixonado por sua roça, bichos e verdes, Jasson Gonçalves da Silva descobriu desde muito cedo que essa conexão alimenta a sua alma e faz da lida diária o seu guia.
POR RODRIGO AMBROSIO
Aterrou no mundo no dia 12 de junho de 1954, Dia dos Enamorados, como gosta de frisar, numa prole de 12 filhos. Foi nascer e renascer [conto mais adiante] em Pão de Açúcar, cidade vizinha à sua Belo Monte, ambas no sertão de Alagoas e banhadas pelo generoso Rio São Francisco. Com a maior idade, foi tentar a vida na Bahia e depois em Sergipe, trabalhando em várias áreas que exigem habilidades manuais, como olaria, carpintaria, serralharia e até no cultivo de arroz. Decidiu voltar à terra natal na virada do milênio, continuando com parte do trabalho aprendido e evoluído, e mantendo a sua roça até os dias atuais.
Acima, Jasson mostra habilidade do entalhe evoluída desde criança.
A experiência com o Grupo Design Armorial durante a expedição Afluentes, no início de 2016, o fez sonhar na ilha de todos os sonhos. Durante uma imersão na Ilha do Ferro, em Pão de Açúcar, Seu Jasson foi um aprendiz da essência do lugar e renasceu. Trabalhou em parceria direta com o artista Dalton
Costa, para quem já havia feito 35 garrafas com cruzes, e foi alimentado por devaneios e ideias de outros criativos, como Maria Amélia, Mestre Valmir, Petrônio, Rodrigo Almeida, Zé Crente e quem vos escreve, Rodrigo Ambrosio, prazer em conviver.
De lá pra cá, o sertanejo alagoano que comemora seus 70 anos, criou um mundo fantástico, fez escola e também frequentou algumas. Talvez as escolas do imaginário do seu quintal sejam as mais férteis. É tanta fauna e tanta flora, tanta coisa e tanta cor, que a mente dos desavisados não acompanha. Sua
arte alegra e hipnotiza.
Poltrona feita por Jasson, que segue o seu imaginário e inova com o uso de corda náutica.
“As cores que uso vêm da natureza, de quem nasce e vive no Sertão. Aqui, a gente vê flor de todo jeito. Aqui mesmo, na Serra das Porteiras, a flor do pau-d’arco vai do amarelo ao roxo. A gitirana também, cada uma fulora de uma cor. Na Serra do Humaitá, tem flor que parece um desenho feito à mão”, destaca Jasson no livro Alagoas – Memória das Mãos.
Fala com orgulho que sempre foi agricultor, além de artista. Criou a sua primeira cadeira em 2017, mas já esculpia alguns santos e animais em madeira. Garrafas, engenhosamente recheadas com pássaros, poltronas surreais, maletas e carrancas tornaram-se suas principais marcas, muito conhecidas e que habitam várias coleções.
Jasson em seu habitat natural, cercado por sua obra.
Curioso e adepto aos desafios, já participou de inúmeras feiras e exposições, como a Amostrada e a Arte dos Mestres, em São Paulo, sua individual O Sol Nasce para Todos, em Maceió, além das internacionais The Brazilian Artisanal Soul, em Miami, Casa Brasil, em Nova Iorque, e Everyday Paradise, na Galeria Rossana Orlandi, durante a Semana de Design de Milão.
O rio segue o seu fluxo esculpindo belos montes e a vida, regada, encarrega-se de agraciar com mais vida os seus filhos. Vários adubos fizeram com que a obra do Mestre florescesse ainda mais no Brasil, na Europa, no mundo.
Acima, as garrafas recheadas com arte resultam de uma técnica própria que o artista desenvolveu: tudo é inserido meticulosamente pelo gargalo, sem cortar.
De volta ao sertão de Alagoas, encontramos Jasson em seu ateliê-ninho, na simplicidade inigualável do seu ser e do seu lugar.
Virou um símbolo alagoano, chamou atenção para a sua cidade e tornou-se uma árvore frondosa com diversas raízes, galhos, folhas, flores, ninhos, pássaros e céus, criando a própria natureza encantada. Sua sombra abraça a família, amigos e fomenta curadores, pesquisadores e artistas de plantão, um gigante!