Criado por Gaetano Pesce, o Prêmio Adriana Adam de Design contribui para a evolução do design com sotaque brasileiro.
Por Bruna Galvão
Créditos: Divulgação, João Vítor Gonçalves, Luisa Grigoletto
Simplicidade, inteligência, curiosidade e visão de futuro são algumas das qualidades que Gaetano Pesce confere a Adriana Adam (assista o vídeo ao final da reportagem). O arquiteto e designer italiano, que compartilhou décadas de amizade com a designer romena radicada brasileira, esteve em São Paulo, em março deste ano, para a cerimônia do 1º Prêmio Adriana Adam de Design.
Idealizado por Pesce, um dos maiores nomes da cena internacional ainda em atuação, o prêmio é uma forma de descobrir e inserir novos talentos nos mercados nacional e internacional, tal como fez Adriana Adam em seus mais de 40 anos de atividade profissional, finalizada em 2014, com o seu falecimento.
“O prêmio de hoje é o início de uma série que ajudará o design a evoluir e ajudar os jovens designers a se expressar”, afirmou Pesce à &Design. “Design é cultura. Talvez até mais que a arte.” Voltado para estudantes e recém-formados, o 1º Prêmio Adriana Adam de Design teve mais de 400 inscritos.
O primeiro lugar ficou com o Espelho Guilhotine, criado pelo designer gaúcho Ricardo Lanfredi Peruzzolo. Em segundo ficou a Luminária Auris, da mineira Manoela de Assumpção Gazze e das paulistanas Victória Munhoz e Verônica Ribeiro, estudantes de design da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. O terceiro lugar coube à Mesa Anita, desenvolvida pelo designer Welison Barbosa dos Santos, de Curitiba.
Além do prêmio em dinheiro (1º colocado, 5 mil dólares; 2º colocado, 2.500 dólares e 3º colocado, 1.500 dólares), os ganhadores participaram com suas obras da 61ª edição do Salone del Mobile 2022, em Milão, Itália, entre 7 e 12 de junho.
Devido à alta qualidade dos projetos recebidos, a organização do evento, a curadoria e o criador do prêmio ainda decidiram estabelecer duas importantes menções honrosas. A primeira foi para a Poltrona Emile, de autoria do gaúcho Fabrício Reguelin Auler, aluno do curso de desenho industrial da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Outra menção honrosa foi destinada ao Banco Tuiuiú, criado pelo curitibano Patrick Afornali, aluno do curso de design da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, em Curitiba.
“Um dia, o design do Brasil será diferente do design de outros países”, afirmou Pesce durante a cerimônia. Uma forma de dizer que o design brasileiro está cada vez mais ganhando o seu próprio sotaque.
Adriana Adam, uma vida dedicada à inovação
Romena naturalizada brasileira, ela revolucionou o design no país com projetos de vanguarda e revelações de grandes nomes. Iniciou sua carreira na Móveis Forma, empresa paulistana que nos anos 1970, foi a primeira a produzir mobiliário colorido para escritórios. Sempre conectada com as novidades, Adriana Adam revolucionou o design brasileiro ao colaborar com o desenvolvimento e a implantação da primeira linha
de móveis com tecnologia 100% nacional.
Também participou ativamente da produção da linha I Maestri, da italiana Cassina, que reeditou no Brasil, em escala industrial, mobílias assinadas por grandes nomes do modernismo internacional. Essas experiências despertaram em Adriana a vontade de pesquisar a produção do design brasileiro de 1910 a 1950.
Disso, veio a ideia de fundar a Nucleon 8, nos anos 1980, em uma casa modernista projetada por Flávio de Carvalho em São Paulo. Trata-se de uma editora de mobiliário brasileiro. Seus sócios eram a arquiteta Consuelo Cornelsen, o designer Paulo Milani e o empresário Zeco Beraldin.
Entre os móveis da marca, inéditos de Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha e Flávio de Carvalho. Além disso, por meio da Nucleon 8, Adriana lançou muitos outros talentos, como os irmãos Campana. A Arquitetura da Luz, também um empreendimento da designer, uniu a estética às tecnologias, como o sistema de alimentação de baixa voltagem e a fibra óptica, para iluminar casas, hotéis e jardins.
Admiradora do mestre Gaetano Pesce, ela trabalhou em um conjunto de casas na Bahia em que os pisos eram feitos de resina: uma inovação à qual ela se dedicou até os últimos anos de sua vida.
Confira o depoimento de Gaetano Pesce sobre Adriana Adam:
Irreverência, bom humor e sustentabilidade marcam as peças vencedoras
O frescor do olhar fica nítido nos trabalhos premiados.
1 – Espelho Guilhotine, de Ricardo Lanfredi Peruzzolo
Irreverente, este espelho de piso é inspirado nos aparelhos de decapitação mecânica do século 18. A ideia desse objeto decorativo é fazer um alerta sobre os perigos da obsessão pelo “corpo perfeito”. De MDF, o espelho também pode ser desenvolvido em ferro ou madeira serrada, e ainda ganhar acabamento em laca.
2 – Luminária Auris, de Manoela de Assumpção Gazze, Victória Munhoz e Verônica Ribeiro
As designers se inspiraram nos urupês, cogumelos conhecidos como orelhas-de-pau. A luminária é feita com hastes de alumínio, papel vergê e materiais recicláveis e usa LED, que consome pouca energia, o que a torna sustentável.
3 – Mesa Anita, de Welison Barbosa dos Santos
Para produzir a mesa na inusitada forma de cogumelo, o designer trabalhou com diferentes técnicas, da tapeçaria à tornearia. O resultado é uma mesa divertida, que pode ser usada para reforçar um ambiente lúdico ou dar um toque bem-humorado quando incorporada a uma decoração neutra.