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A arquitetura da delicadeza

O material proveniente da celulose é a paixão do artista plástico Enrique Rodriguez, que compartilha seus conhecimentos por meio da Universidade do Papel.

Angela Villarrubia | Fotos: Bruno Lemos @bmlemos

Há uma delicadeza nos trabalhos do artista plástico Enrique Rodriguez, criador da técnica Arquitetura do Papel.

Em seus quadros e painéis tridimensionais, ele utiliza diferentes tipos de papéis e, com recortes e sobreposições, constrói mosaicos em que há uma série de detalhes que precisam ser arquitetados com precisão e engenhosidade, para que cores, texturas e profundidades se harmonizem.

Rodriguez utiliza papéis artísticos importados, livres de ácido em sua composição e, por isso, com longa durabilidade, já que são resistentes aos fungos e à proliferação de bactérias.

“Podem durar 300 anos, pois as cores são aplicadas na massa”, ensina, observando que no Brasil não há a produção industrial desse tipo de material.

Ele também tem uma queda pelo papel artesanal, particularmente pelo nipônico washi, confeccionado por meio de técnicas milenares. Além disso, trabalha apenas com tingimento natural.

Cada obra realizada por Rodriguez é envelopada em acrílico, de efeito leve, para preservar o material ao longo dos anos. O procedimento é empregado em esculturas e quadros personalizados retroiluminados, divisórias, encostos de cadeira, cabeceiras de cama, entre outros itens produzidos por ele.

A inspiração de Rodriguez para desenvolver sua técnica veio da ópera. “Montei um projeto chamado Ópera de Papel, com cenários, adereços e figurinos de cantores feitos com o material. Até hoje minhas criações têm caráter cenográfico: trabalho com diferentes camadas, com profundidade, com luz”, explica.

Paralelamente a seu trabalho artístico, que já foi apresentado em mostras como Maison et Objet, em Paris, e Macef, em Milão, ele compartilha seus conhecimentos na Universidade de Papel, fundada em 2015. Trata-se de uma escola e hub para empresas, artistas e fãs do material com o intuito de conectar a cadeia produtiva, abrir novos caminhos por meio da formação de mão de obra e geração de renda e revelar talentos.

O projeto deu um novo passo em 2016, quando o artista foi parar na favela de Paraisópolis, em São Paulo, para ministrar aulas de Arquitetura do Papel a um grupo de 20 moças em situação de vulnerabilidade social. A experiência foi ampliada por Rodriguez para outros Estados e países.

Desde 2021, em parceria com a ONG Alquimia, na capital paulista, ele dá aulas com atividades lúdicas e recreativas para crianças de 5 a 14 anos.

Após a pandemia, Rodriguez tem novos planos para sua universidade. Deseja realizar pesquisas e experimentação com papel e celulose em substituições ao plástico, gerando produtos simples e econômicos. Esse é o caso das construções feitas com tubos de papelão, projetadas pelo arquiteto japonês Shigeru Ban para acolher desabrigados de desastres naturais.

“O futuro do papel passa pela questão da sustentabilidade – e não é marketing. Se a ideia é eliminar o uso do plástico, o papel será fundamental porque é renovável”, finaliza.

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