Vilas expõe a força da mulher na criação de joias e peças de decoração.
Por Lúcia Gurovitz | Fotos: Barbara Brasil, Gabriela Tenebaum
Na contramão da joalheira tradicional brasileira, que privilegia a pedraria, Paola Vilas prefere os metais, moldados no formato de figuras humanas de inspiração surrealista. Com lojas no Rio de Janeiro e em São Paulo, suas peças fazem sucesso internacionalmente. E agora ela está expandindo suas fronteiras em direção ao design de mobiliário e objetos de decoração.
A ideia inicial não era virar designer de joias. Paola Vilas vislumbrava trabalhar com artes plásticas e estava em busca de um modo de expressão para chamar de seu. “Eu havia me aproximado do pensamento escultórico e vi na joalheria uma forma de esculpir sem precisar de uma grande estrutura. Poderia soldar, serrar e lixar sozinha, numa pequena bancada”, conta.
“A feminilidade é potência e não tem nada de frágil. Procuro honrar essa força.”
Aos 20 anos, depois de um curso de ourivesaria no ateliê Lívia Canuto, no Rio de Janeiro, ela começou a confeccionar suas primeiras peças e a sair pelas ruas paramentada com miniesculturas de olhos, mãos, bocas e rostos. “Devido ao visual inusitado, minhas joias sempre funcionaram como iniciadoras de conversa. As pessoas me paravam para perguntar de onde eram. Logo comecei a aceitar encomendas e assim, organicamente, a marca nasceu”, lembra.
Hoje, seis anos após a fundação da empresa Paola Vilas, foi montado um time de ourives experientes para cuidar da manufatura. As principais atividades da designer estão relacionadas à criação: conceber e prototipar as peças e garantir que todos os aspectos da marca (dos posts nas redes sociais à cenografia das lojas) estejam afinados com sua linguagem artística.
“Trabalho com questões contemporâneas relevantes para mim”, afirma. Uma delas é a energia feminina, mas vista de forma não estereotipada, frisa. “A feminilidade é potência e não tem nada de frágil. Procuro honrar essa força”.
O surrealismo – outro tema recorrente – faz com que as joias ganhem um caráter onírico. “Essa estética desconstrói a realidade para que um novo modelo mental, mais livre, possa surgir. Diversas obras do movimento propõem sair do próprio corpo e se observar de fora, o que está ligado à psicanálise e ao mundo dos sonhos.”
As duas temáticas compõem uma espécie de núcleo de referências para Paola e estão na origem também dos móveis e objetos lançados por ela no ano passado. “Quis experimentar es- calas maiores e imaginar algo para a casa”, diz. Feitos de ferro, latão e pedra, os novos itens seguem processos de fabricação similares aos da joalheria, exibindo linhas curvas e fragmentos de figuras humanas.
“Meu maior desejo é que as pessoas desenvolvam um vínculo com minhas criações.” Para isso, no interior das lojas ela deixa tudo em mostruários abertos, algo raro em joalherias. Também tem feito peças de prata porque o material é mais acessível do que o ouro. “Gosto da ideia de produzir joias que possam circular em diferentes ambientes. Ir da feira ao baile.”