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Tecelão da natureza

Por B. Gauvain

Ilustração: Luisa Grigoletto

Faz alguns anos, cientistas concluíram que os pássaros não constroem ninhos por instinto, mas por aprendizado. Significa que, se a construção fosse baseada apenas na herança genética das aves, todas construiriam seu ninho da mesma forma, o que não ocorre: algumas começam a fabricação do ninho pelo lado direito, enquanto outras pelo lado esquerdo. As menos experientes derrubam muitas folhas na confecção, ao contrário das “seniores”, cujo desperdício de material tende a não ocorrer.

O estudo, que foi publicado no periódico Behavioural Processes em 2016, teve como base a observação de um dos maiores “designers” da natureza, o tecelão – no caso, o tecelão-mascarado-do-sul, nativo da Botsuana. Existem várias famílias desses pássaros espalhadas pelo mundo, mas a forma como eles “tecem” os ninhos (daí o nome da espécie) é sempre surpreendente.

Na pesquisa, a espécie analisada, Euplectes afer, constrói ninhos com fibras vegetais bem verdinhas. A ave trança o material de modo impecável até formar uma bolsa, que protegerá os seus ovos. Olhando com meus olhos humanos para esse feito da natureza, lembro-me de um objeto habitual do nosso cotidiano: a deliciosa cadeira de balanço suspensa, que, como um ninho, acolherá quem precisa de repouso.

Já os ninhos dos tecelões brasileiros, da espécie Cacicus chrysopterus, são uma bolsa tal qual a entendemos: com uma grande alça suspensa em um galho isolado de uma árvore, cujo caimento varia de acordo com a experiência do tecelão. O material usado é uma crina vegetal muito fina, geralmente, de cor escura, que ao ser entrelaçada ganha o aspecto de rede, pela delicadeza e graciosidade de como se sustenta.

Se os tecelões tecem, há aves que costuram, colam, esculpem e escavam seus ninhos. O joão-de-barro, por exemplo, esculpe sua casa com barro e palha em lugares altos, como árvores e postes. Feito pelo casal, o ninho, em formato esférico, tem dois cômodos: um “hall” de entrada e um “quarto”, onde há um “leito”, com penas, pelos e musgos para acomodar os ovos e os filhotes.

Grandes engenheiros, não é mesmo? Mestre do design de interiores, o pássaro-cetim cria um cenário espetacular para o acasalamento com galhos, sementes, folhas e qualquer outro objeto interessante. Prezando pelo bom gosto, o bichinho monta o palco, onde se exibirá para a fêmea, e ao seu lado constrói a “cama” do casal – que lembra muito uma cama dossel. Se a fêmea aprovar a decoração, ponto para o macho!

A conclusão da pesquisa científica sobre o ninho das aves me traz satisfação. Ter a certeza de que nenhum ninho é igual a outro, ainda que feito por pássaros da mesma espécie, que estão a aperfeiçoar suas habilidades de acordo com a experiência, é algo valioso para a vida: a prova de que estamos sempre a aprender e a evoluir.

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