Imerso em redes de conexões, navego por reflexões sobre a falta que se manifesta em tempos de excesso. Partilho, ao final, o meu mapa para preencher esses vazios no amanhã.
A pressão constante de expor um estilo de vida intenso nas redes sociais, cumprir com todas as responsabilidades reais e atender às normas sociais consome o oxigênio dos nossos tempos. Esse constante “corre” atrás do impossível acarreta ansiedade, estresse, burnout. Isolamento envolto de excesso permeado de ausência de conexões “reais”, sinapses, sentido.
Em uma sociedade hiperligada, que nunca se desconecta, em meio às correntezas, nos vemos incapazes de alcançar alguma margem para uma pausa, descansar e refletir sobre a própria existência. A insatisfação constante e a eterna busca do próximo desejo tornam essas indulgências, quando alcançadas, insuficientes para preencher o vazio causado pelas pressões sociais e expectativas irreais que confinam nossas existências. Nesse mar, a empatia é escassa. Nós nos descobrimos isolados em nossas ilhas.
Nessa maré, somos influenciados e controlados por meio de diversas formas de manipulação, influentes, propaganda, doutrinação política, narrativas tendenciosas e distorção da informação moldam a visão de mundo e seus valores de acordo com interesses econômicos. Nossa capacidade crítica e liberdade de escolha são minadas por novas normas culturais, comportamentais, pressões sociais, expectativas familiares e sistemas de relevância na mídia.
Somos explorados em nossos desejos, medos e vulnerabilidades, e nossas decisões muitas vezes se sobrepõem aos nossos valores de identidade e autenticidade. Uma colonização, na qual somos despojados e sequestrados inconscientemente e condicionados a uma nova norma comportamental.
Nessa cruzada, o design tem o potencial de ser uma poderosa via de salvação e transformação da sociedade. Em um mundo encharcado de estímulos e excessos, o design não deve ser apenas uma ferramenta para a economia, o mercado e a indústria, mas sim um meio de enfrentar esses desafios e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Com uma abordagem participativa, inovadora e centrada na sociedade, o design pode despertar agentes de mudança em suas realidades. Ao fomentar criatividade, empatia e pensamento crítico, o design pode criar soluções inovadoras e sustentáveis para desafios complexos, como pobreza, desigualdade, acesso, inclusão e sustentabilidade.
Construir uma sociedade justa e com identidade própria requer um processo de autodescobrimento. Devemos nos aprofundar em nossos valores identitários e nos educar para desenvolver uma visão de mundo independente, capaz de resistir às influências externas e à manipulação de valores e ideologias de forma resiliente. A promoção de um design que valorize o diálogo, o respeito às diferenças e aos princípios éticos, em um ambiente diverso e inclusivo, é essencial para aplacar os efeitos negativos do excesso e construir uma sociedade mais justa e plural.
Nas escolas, o design pode desempenhar um papel fundamental ao criar ambientes educacionais que sejam engajadores, estimulantes e inclusivos. O design centrado no aluno e na formação cidadã pode melhorar a experiência de aprendizagem, promover a criatividade, a colaboração e o pensamento crítico, transformando o mundo por meio da criatividade.
É por meio desse enfoque que devemos nutrir a imaginação e os sonhos das crianças, e também dos adultos, para que todos possam ter acesso e oportunidades. É preciso ensinar design para que a sociedade em suas decisões desenhe e construa um mundo melhor.
É hora de olharmos para o vazio e preencher suas lacunas com propósito e significado. O design pode ser o meio para encontrarmos o caminho, em tempos de excesso e vazio, promover a autenticidade e nos conectar novamente com a essência de nossas existências. Juntos, podemos design(ar) um mundo mais consciente, humano e verdadeiramente inclusivo.
Precisamos ensinar design para todos.
FOTOS ANDRÉ BATISTA, SANDRA BORDIN E DIVULGAÇÃO
POR JUM NAKAO