Scroll Top

As muitas artes brasileiras

As pinturas de Heitor dos Prazeres, destaque da SP-Arte, resume a tendência artística atual: o diálogo do academicismo erudito com os “diferentes povos” do País.

POR ROBERTO PALAZZI

Rotas Brasileiras 2023, mostra organizada pela produtora SP-Arte, recém-realizada na ARCA, em São Paulo, trouxe galerias do Norte (Pará), do Nordeste (Bahia, Alagoas, Pernambuco, Ceará e Maranhão), do Centro-Oeste (Goiás e Brasília) e do Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) com 70 projetos curatoriais entre galerias, instituições e projetos especiais.

Nessa edição, fica claro que a arte do Brasil começa a trilhar um caminho próprio, senhora de seus fazeres poético-estéticos, fugindo dos estereótipos do folclórico, do artesanal, do naïf e, sobretudo, “dos pasteurizados dos norte-americanos”. Uma arte que busca dialogar com suas raízes, que quebra os limites entre fani art (acadêmica e erudita – letrados, das classes sociais A e B) e popular (vinda das periferias, não só dos centros urbanos, mas de fora do eixo São Paulo– Rio, da arte produzida não institucionalizada – dos museus e galerias comerciais), uma arte produzida pelos povos brasileiros nos interiores do imenso território nacional, portando com seus sotaques, tradições, formas e cores. A pintura destacou-se na maioria das galerias, trazendo artistas e obras excepcionais do Modernismo aos contemporâneos, em técnicas, processos, suportes, estilos e temas.

Heitor dos Prazeres, na página ao lado sua obra Sem título, 1953, óleo sobre tela, 50 x 61,5 cm

Não por acaso, um dos destaques da SP-Arte foi a mostra de Heitor dos Prazeres (1898-1966), na Galeria Almeida & Dale, que transitava em todas as áreas das artes, da pintura à música, do teatro ao cinema, da literatura à política. Suas obras pictóricas expressam o cotidiano de um Rio de Janeiro, ainda capital da república, do negro a deriva no pós-escravidão, nos subúrbios cariocas, do migrante na urbanidade da grande cidade, da música, do samba, das rodas de danças, dos desfiles carnavalescos, das religiões de matriz africana, em síntese retratam o homem negro, transportando em suas telas a musicalidade, a ginga e o olhar sensível do mundo ao seu redor, quebrando os limites ente fin art / arte contemporânea e popular.

// FOTOS FILIPE BERNDT E DIVULGAÇÃO

Posts relacionados

Deixe um comentário