
POR LÍVIA BREVES
AS PINTURAS DE MAXWELL ALEXANDRE estão diferentes. Trabalhando em um pequeno ateliê em casa desde que sua primeira filha nasceu, ele passou a usar pastel seco e oleoso em quadros que diminuíram de escala para se adaptar ao novo contexto espacial. Ficaram para trás, temporariamente fora de linha, as gigantes obras pinceladas a óleo em papel pardo que fizeram sua fama. “Entendi que a sujeira e o cheiro da tinta não seriam uma boa ideia. Preciso estar pronto para pôr a mão na Goia a qualquer momento”, conta o artista, que batizou esses trabalhos de “pinturas de berço”.

Dos patins à vida farta
Formado em Design pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica), Maxwell foi atravessado pela arte de maneira quase imprevisível, ainda que sua mãe sempre dissesse que o desenho era o dom que Deus havia dado a seu filho. “Quando fui procurar o ensino superior, vi que o curso de Design da PUC – ali do lado de casa – abraçava a fotografia, o cinema e a gravura. Foi essa amplitude que ratificou minha escolha, uma vez que abrangia tudo aquilo com que eu já estava envolvido.”
Ele se refere à prática de patins street que o levou, na época, a organizar campeonatos, desenhar marcas e roupas, fotografar, filmar exibições e editar vídeos. Para Maxwell, a fragmentação do saber no campo da criatividade que marca o curso de Design está alinhada com a não especialização do conhecimento característica dos dias de hoje. “Você aprende sobre empreendedorismo, filosofia, sociologia, fotografia, gravura e, o mais importante, tem as disciplinas de projeto baseadas em antropologia”, relembra. “Eu não consigo me imaginar indo para uma escola de Belas Artes para aprender técnicas de pintura. A pintura contemporânea é tudo o que está ao redor dela mesma”, diz o artista, com a experiência de quem já teve obras expostas nos maiores museus e galerias do Brasil, além de Nova York, Paris, Londres, Madri e Marrakech.
Apesar da fama e de reconhecer que seu trabalho vem sendo reverenciado, não foi simples se sentir totalmente inserido na cena. “Não existe o arquétipo do pintor negro na história da arte, daí vem a dificuldade de me enxergar num ofício poético, glamurizado, exaltado pela elite. A ideia de ganhar a vida com uma atividade sublinhada por esses adjetivos parecia utópica demais, sempre me remeteu à coisa de playboy, à vida ganha. É um estado de espírito de calmaria que minha vida nunca me permitiu. Hoje estou no processo de aceitar que minha vida mudou, de deixar de criar problemas e me envolver com esses adjetivos que a vida ganha de um pintor permite.”
Tudo pode mudar, até os temas

seu trabalho ao Palais de Tokyo (Paris) e à galeria A Gentil Carioca (Rio de Janeiro e São Paulo). Em 2022, pinturas das duas séries integraram sua primeira mostra individual em Nova York; no ano seguinte, a estreia foi em Madri. A série mais recente, Clube, espelha a bonança de seu momento presente. “Ela é um reflexo da minha vida abastada de hoje, de onde circulo, com quem eu ando. Uma vida de fartura, de bem-estar, de passe livre, de arquitetura ampla, iluminada, arejada”, conta. Então observa: “Pintar esse assunto me aproxima da tradição, do desenho acadêmico. Me sinto mais livre para ser o artista tradicional que tentei não ser. Eu quero esse lugar do pintor que monta o cavalete na frente do oceano e das montanhas. Estou pintando o que estou vivendo”. Num País de tantas assimetrias, em que a cor da pele quase sempre fala sobre as condições socioeconômicas, as pinturas do ex-morador da Rocinha ganharam personagens brancos. “Eu sempre busquei ser diferente, estar na vanguarda. No entanto, o que mais tem me interessado nesse momento é o lugar- comum. Pintar a pele branca me coloca ao lado da massa de artistas que tratam desse tema central na história da arte e da pintura: o homem branco.” Em suas estimativas, Clube deve crescer pelos próximos cinco anos, enquanto Maxwell se multiplica em outros projetos.
Entre eles, está a música, com o disco Davinci, em que produz, canta e cria as bases em um programa de edição de vídeo, meio com o qual está mais familiarizado. “Meu processo de criar é decupar músicas prontas que baixo da internet, separando seus elementos e criando pequenos ‘rapó’. A palavra correta é rapport, que no design indica a ideia de padronagem, ritmo, repetição.” O tema é a história da arte: “Passa pelo circuito de arte contemporânea e suas questões mais intrínsecas que pouco são faladas abertamente. Eu acabo misturando referências de meu crescimento na favela da Rocinha e também minha experiência como cristão evangélico, atleta e militar, quando fui soldado no Exército Brasileiro. As bases são como mantras, o disco é religioso”, dá o spoiler.
















