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CCBB SP mergulha na arte afro-brasileira

Em cinco eixos, mostra destaca nomes centrais da arte afro-brasileira: Arthur Timótheo da Costa, Maria Auxiliadora, Rubem Valentim e Mestre Didi e Lita Cerqueira – CCBB SP mergulha na arte afro-brasileira.

Toda história tem mais de um lado. E só um lado, o do branco na arte, vem sendo incansavelmente e repetidamente contado ao longo do tempo nos livros, nas salas de aula e nas exposições. Agora, uma expressiva coletânea de obras de artistas negros ganha holofotes em uma exposição inédita, superlativa e reveladora no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo (CCBB).

Com patrocínio do Banco do Brasil e BB Asset Management, Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira, aberta ao público a partir de 16 de dezembro, reúne obras produzidas por 61 artistas negros, de diferentes regiões, nos últimos dois séculos no Brasil. São cerca de 150 pinturas, fotografias, esculturas, instalações, vídeos e documentos abordando uma variedade de temáticas, técnicas e descritivos, distribuídos pelos cinco andares do CCBB. Para conferir na íntegra, a visitação tem duração média de duas horas.

“O propósito da mostra é um diálogo transversal e abrangente da produção artística afro-brasileira no país”, explica o curador Deri Andrade, pesquisador, jornalista, curador assistente no Instituto Inhotim e criador da plataforma Projeto Afro (projetoafro.com) de mapeamento e difusão de artistas negros/as/es da cultura afro-brasileira.

A exposição é um desdobramento do Projeto Afro, em desenvolvimento desde 2016 e lançado em 2020, que hoje reúne cerca de 300 artistas catalogados na plataforma. São nomes que abarcam um vasto período da produção artística no Brasil, do século 19 até os contemporâneos nascidos nos anos 2000. “A exposição traz outra referência e um novo olhar da arte nacional aos visitantes”, afirma o curador. “A história da arte do Brasil apaga a presença negra e o artista negro do seu referencial”, completa.

O trabalho de pesquisa por trás do projeto e da exposição nasceu do desejo e, na sequência, da frustração de Andrade ao não encontrar muitas referências em torno da arte afro-brasileira no Brasil. Ao se debruçar em publicações, materiais de outras exposições (a exemplo de várias com curadoria de Emanoel Araujo nos anos 90, que mais tarde viria a se tornar diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo) e inúmeras pesquisas para o mapeamento de artistas negros e suas obras pelo Brasil, Deri Andrade iniciou um minucioso projeto de catalogação de uma arte que, por vezes, foi marginalizada pela sociedade.

“Ser artista acho que já é difícil, ser artista negro no Brasil é ainda um pouco mais complicado”, afirmou o artista Sidney Amaral (São Paulo, SP, 1973/2017), em 2016, ao ser entrevistado pelo projeto AfroTranscendence. Desde a conversa, esse pensamento acompanha Andrade, que dedica parte de seu tempo a conhecer e investigar a produção artística de autoria negra no Brasil.

Uma exposição em cinco eixos

Cinco eixos, cinco artistas. Assim foi desenhada a exposição que, a partir de cinco nomes centrais, revela diferentes épocas e discussões, contextos, gerações e regiões. De grande abrangência, a mostra percorre do período pré-moderno à contemporaneidade e discute eixos temáticos em torno de artistas negros emblemáticos: Arthur Timótheo da Costa (Rio de Janeiro, RJ, 1882-1922), Lita Cerqueira (Salvador, BA, 1952), Maria Auxiliadora (Campo Belo , MG, 1935 – São Paulo, SP, 1974), Mestre Didi (Salvador, BA, 1917- 2013) e Rubem Valentim (Salvador, BA, 1922- São Paulo, SP, 1991).

Cada um dos nomes acima lidera, respectivamente, um eixo: Tornar-se, Linguagens, Cosmovisão (sobre engajamento político e direitos), Orum (sobre as relações espirituais entre o céu e a terra, a partir do fluxo entre Brasil e África) e Cotidianos (discussão sobre representatividade).

A exposição conta ainda com cinco trabalhos comissionados assinados por Gustavo Nazareno (Três pontas/MG), Lídia Lisboa (Guaíra/PR), Elidayana Alexandrino (Coremas/PB), Helô Sanvoy (Goiânia/GO) e Rafael Bqueer (Belém/PA). A primeira obra da coleção do Projeto Afro, do artista Vitú de Souza (Belo Horizonte/MG), também compõe a mostra.

Figuras centrais

No primeiro eixo, o público confere a arte de Arthur Timótheo da Costa, cuja produção transita entre os séculos 19 e 20, expõe a relação do artista com seu ateliê, com a pintura, a fotografia e com artistas que se autorretratam. Seus traços revelam certa dramaticidade e evoluem para uma obra pré-modernista.

Rubem Valentim, homenageado na seção 2, é considerado um mestre do concretismo brasileiro. Propõe uma discussão sobre forma e elementos religiosos. Iniciou a carreira produzindo de natureza-morta a flores e paisagens urbanas e enveredou para o uso de símbolos e emblemas geométricos de religiões de base africanas.

O eixo 3 é dedicado à Maria Auxiliadora, que encanta pelo uso das cores em seus retratos, autorretratos e festas religiosas. Mas não só. Sua obra carrega uma discussão mais política, engajada no debate sobre moradia, territórios, segurança alimentícia e direitos da população negra.

Mestre Didi, na seção 4, foi artista e sacerdote, revelando muito da espiritualidade e da relação Brasil/África em seus trabalhos. Sua obra também é marcada pelo uso de materiais naturais como búzios, sementes, couro e folhas de palmeira e trata bastante das afro-religiosidades a partir das relações entre Brasil e África.

No último eixo, a artista central é Lita Cerqueira, única ainda viva dentre os cinco nomes-chave da exposição. Aos 71 anos se consagra como uma das mais importantes representantes da fotografia brasileira, com reconhecimento internacional. Iniciou a carreira capturando imagens de festas populares da Bahia, da capoeira e detalhes da arquitetura do centro histórico de Salvador. Logo depois, enveredou para a fotografia cênica, realizando importantes registros de músicos de sua época, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa.

Em cartaz até 18 de março de 2024, Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira oferecerá ainda laboratórios e oficinas e contará com um espaço próprio do Projeto Afro, no qual o público poderá consultar materiais de pesquisa e acessar a plataforma. Fique atento à programação do CCBB São Paulo, em bb.com.br/cultura.

A exposição foi contemplada no último edital de patrocínio do Centro Cultural Banco do Brasil 2023-2025, realizado no primeiro semestre de 2023, que aprovou projetos com temas e abordagens alinhados aos pilares conceituais definidos para essa seleção: pluralidade cultural, identidade, multidisciplinaridade, diálogos e novos olhares. “O Banco do Brasil tem a satisfação de patrocinar esta mostra que celebra o talento de 61 artistas negros, das diversas regiões do nosso país. Este é um dos vários projetos que valorizam nossa cultura e resgatam a ancestralidade, selecionados por meio do Edital de Patrocínios elaborado em parceria com o Ministério da Cultura e publicado em janeiro de 2023. Acreditamos que a arte é uma poderosa ferramenta de transformação social e, ao incentivar este projeto, reafirmamos nosso papel na construção de uma sociedade mais justa e plural”, destaca a presidenta do BB, Tarciana Medeiros.

Para o Centro Cultural Banco do Brasil, receber a exposição Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira, valida seu compromisso de ampliar a conexão do brasileiro com a cultura, por meio de um projeto que reafirma nossas origens e ancestralidade, suas narrativas e símbolos, a descolonização, dentre outras questões que oferecem caminhos para compreender a construção contemporânea de identidades. A mostra ainda rompe paradigmas sobre o próprio fazer artístico e apresenta trabalhos que expressam pluralidade cultural, diversidade e a riqueza de manifestações regionais brasileiras, proporcionando diálogos relevantes e trocas significativas com público, artistas, mercado e sociedade.

SERVIÇO

Exposição: Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira
Local: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Período: 16/12/2023 a 18/03/2024
Ingressos gratuitos: disponíveis em bb.com.br/cultura e na bilheteria física do CCBB SP. 

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